Resenhas

Tim Bernardes – Recomeçar

Disco fala ao íntimo do ouvinte em continuidade ao que músico faz com O Terno

Loading

Ano: 2017
Selo: Independente
# Faixas: 13
Estilos: Indie, Folk, Rock Alternativo
Duração: 43'
Nota: 5.0
Produção: Tim Bernardes

Ao longo dos últimos seis anos, Tim Bernardes colocou seu nome entre os destaques de sua geração enquanto compositor e vocalista da banda O Terno, demonstrando uma grande fluência em escrever músicas que traduzem ideias, sentimentos e experiências próprias de quem passa hoje pelo fim da adolescência e pelos anos universitários. Recomeçar, ao contrário do que uma interpretação de seu título pode sugerir, traz o artista em continuidade ao trabalho que vem apresentado, só que agora na dinâmica de não pensar suas músicas no formato de banda, ou trio, o que gerou um disco de canções que habitam outra esfera estética, ainda que em par com o que já conhecíamos de sua obra.

Isso porque não é difícil imaginar versos como “Ela não vai mais voltar”, “Eu prometi que não ia mais me apaixonar” e “O que começa terá seu final/E isso é normal” entre as músicas românticas de corações partidos que O Terno já gravou, ao lado de Eu Vou Ter Saudades, Volta ou Depois que a Dor Passar, ao mesmo passo em que identificamos facilmente o autor de “Ela sentiu mais do que aguentava/Não quer sentir nada nunca mais”, “Perdeu o que viveu pensando e calculando um sentimento incalculável/” e “Pouco a pouco eu vou me conhecer melhor” como o mesmo das faixas Medo do Medo, O Orgulho e o Perdão e Melhor do que Parece, com seus questionamentos também tão universais ao seu público quanto o amor. Em todos esses casos, há um grande aspecto narrativo nas letras, com uso de muitos substantivos para ora explicar, ora ilustrar cenas bastante concretas para os fãs no quesito identificação.

Mesmo assim, a audição de Recomeçar leva o ouvinte a um território sonoro que o formato de trio, ainda que conte com outros timbres no estúdio (e às vezes em shows), parece ainda não ter dado conta, um lugar ainda mais sensível do que até a música mais sentimental que O Terno já gravou conseguiria chegar. As treze faixas do álbum guiam nossos ouvidos a uma jornada emocional com vales introspectivos seguidos de picos de volume adornados por diversos instrumentos de sopro e cordas, um som protagonizado pelo que o violão do Folk tem de mais cru (como em Quis Mudar) e a guitarra de cunho mais dramático oferece ao Rock Alternativo (As Histórias do Cinema) sempre no intuito de falar diretamente à audição mais afetiva do indivíduo. A própria ambientação “atemporal”, que dá aquela cara de um disco que poderia ter sido lançado em qualquer momento dos últimos 40 ou 50 anos, confere uma certa familiaridade confortável, o que faz com que você entre e fique à vontade no som de uma forma que um formato musical muito inédito (ou Experimental) dificilmente permite.

E o que Tim Bernardes mais oferece em Recomeçar é um convite a uma postura de total entrega do ouvinte, que se percebe abraçado por melodias calorosas, ainda que melancólicas, instigado pelas letras de tão fácil assimilação, mesmo quando complexas, e impressionado do começo ao fim tanto pela qualidade, quanto pela beleza que o álbum apresenta. Há espaço ainda para Tanto Faz, um não-hino que sintetiza a desesperança de nossa época como nenhuma outra canção de 2017 conseguiu, além do retorno de Não, uma velha conhecida dos fãs, em uma versão definitiva que entrega o que pode ser o melhor momento do disco, uma obra que argumenta a favor da relevância do músico entre seus contemporâneos indo ao encontro de uma grande satisfação do público que já o segue.

(Recomeçar em uma música: Talvez)

Loading

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.