Resenhas

Queens of the Stone Age – Villains

Produção de Mark Ronson decepciona e atrapalha novo álbum do grupo norte-americano

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Ano: 2017
Selo: Matador
# Faixas: 9
Estilos: Rock Alternativo, Hard Rock
Duração: 48:01
Nota: 3.0
Produção: Mark Ronson

Quis o tempo que Queens Of The Stone Age, num processo semelhante ao que deu a Foo Fighters a mesma fama, se tornasse uma instância quase sagrada do “Rock Puro”, “verdadeiro”. São duas bandas centradas numa figura que as lidera, no caso, Josh Homme e David Grohl, respectivamente que, cada um a seu jeito, divulga a imagem e a marca sonora de seu grupo. Enquanto Grohl adora um holofote, Homme age nas sombras e essa predileção em termos de relações públicas, carrega identidade com sua respectiva banda. No fim das contas, Foo e Queens são dois lados da mesma moeda rocker neste novo milênio. Herdeiros diretos do que se fazia nos anos 1970, com alguma inteligência para soar diferentes e parecidos em relação a este som, de acordo com o sabor do vento. São duas formações bem inteligentes e que sabem o que estão fazendo, cativando seus fãs de tal modo que eles encaram os líderes dos grupos como autoridades incontestáveis máximas no assunto. E, bem, não são. Vamos falar então sobre o mais novo lançamento de Homme e sua turma, Villians.

O primeiro detalhe interessante do álbum é que, a exemplo do novo de Foo, Homme recorre a um produtor do terreno Pop, mostrando que o Rock mais próximo do Mainstrem precisa, loucamente, de inovação e alguma inventividade para se tornar viável. Sendo assim, a boa escolha de Mark Ronson acena com esta percepção, mostrando que há disposição por parte da banda em se manter criticamente relevante, uma vez que, para os fãs, eles são quase inatacáveis. O resultado da interação entre produtor e mente criativa, Ronson e Homme, gera bem menos faísca do que poderíamos supor. Onde foi parar o sujeito que tem as boas referências dançantes e eletrônicas que já conhecemos? Perdeu-se em algum ponto do caminho, com o desejo de soar complementar ao trabalho da banda em vez de adicionar novidades, novas referências ou algo assim. No fim das contas, a sonoridade de Villians adquire uma tonalidade entre o dark habitual de QOTSA e alguma leveza desnecessária na mixagem/gravação, dando a impressão que ouvimos um registro intermediário, um disco de sobras, de lados-B, algo assim. Pena, viu?

Mesmo assim, há possibilidade de notarmos o low profile de Homme por todo o disco. O sujeito é um artesão de sombras e som, um cara que tem muito mais a mostrar do que Grohl, por exemplo. Verdade que já tivemos álbuns da banda com mais coesão e vigor criativo, especialmente Songs For The Deaf (2002) e até mesmo o mais recente, Like Clockworth (2013), e isso é algo que sentimos logo após as duas primeiras canções, que são os momentos mais criativos e intensos por aqui. Feeet Don’t Fail Me e, especialmente, The Way You Used To Do, são duas bestas-feras em forma de música. A primeira é intensa, começa aos poucos e oferece um barulhão impressionante de guitarras e efeitos, tudo devidamente embebido no registro vocal maníaco de Homme, que funciona às mil maravilhas. A segunda, meus caros e caras, é um petardo de origem Glam, com um potencial dançante muito grande, misturando as origens desérticas da banda com alguma maluquice noturna, devidamente subvertida em forma de Boogie/Blues incandescente. Coisa de gênio.

Quando a gente se acomoda na cadeira para ouvir mais e mais canções nestes termos, o disco entra num modo “repeat” que vai decepcionando o ouvinte à medida em que avança por faixas bem sem sal. Domesticated Animals tenta soar maníaca e mauzona, mas se perde no arranjo frouxo, que dá algum tom plástico a ela, com a voz de Homme tentando soar como um Hannibal Lecter do novo milênio sem conseguir. Fortress investe num arranjo mais climático, mas é longa demais, acabando por dar certo sono. Heead Like A Haunted House poderia soar mais interessante, uma vez que vai por caminhos esquizofrênicos de batidas de bateria e trabalho de guitarras, com Homme soando vigoroso, mas a produção de Ronson, acomodada e submissa, cobra seu preço fazendo a canção soar plástica demais. Un-Reborn Again tenta ser um épico com toques bowieanos enfiados numa estrutura mais pesada, porém derrapa ao longo de seus quase sete minutos. Hideaway segue quase no mesmo tom, soando como um apêndice involuntário da canção anterior, mas abre caminho para The Evil Has Landed, que é bem interessante, com uma levada bacana de bateria e guitarra. Villians Of Circumstance, fechando o disco, é psicodélica e cinematográfica, vai aos poucos, porém poderia ser mais concisa em nome de um resultado melhor. E fim.

Uma vez que a produção de Mark Ronson não se justificou, tendo ele ficado omisso do processo criativo e sonoro deste novo álbum, os fatos apontam para um certo esgotamento criativo de Josh Homme. Ao contrário de Grohl, com quem vai excursionar por vários lugares – passando por aqui, inclusive – Homme tem cartas na manga em termos de criatividade e um pouco mais de noção sobre o assunto. Dá pra ter alguma esperança sobre os próximos passos e etapas. E, claro, fica a curiosidade de ver esse álbum ao vivo, o que pode mostrar o talento do sujeito como (re)criador. A conferir.

(Villains em uma música: The Way You Used To Do)

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.