Resenhas

The Horrors – V

Grupo inglês revela maturidade artística e cuidado ao reinventar sua própria sonoridade

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Ano: 2017
Selo: Wolf Tone/Caroline International
# Faixas: 10
Estilos: Synthpop, Pop Psicodélico,
Duração: 54:30
Nota: 4.0
Produção: Paul Epworth e The Horrors

A estética Psicodélica é bastante plural e, se um artista quer permanecer relevante dentro dela, ele precisa fazer mais do que replicar lugares comuns – fato que nos faz repensar o tanto de novos Tame Impala e Boogarins que surgem todos os dias. Fora desse escopo, The Horrors parece nos mostrar novas formas de entender os limites da estética, propondo temas diversos a cada disco, mas os mantendo unidos pela sensação inquestionável de uma densidade profunda.

Ouvir qualquer trabalho do grupo inglês é, antes de mais nada, se aventurar em um território hostil. Um que explora os excessos de reverbs e sonoridades como forma de nos deixar estarrecidos com a potência deste som, seja no disco de estreia Primary Colours, de 2009, ou em Luminous, de 2014. Entretanto, com essa constante escolha pelos excessos em sua discografia, ficava o questionamento se isso, na verdade, não era exatamente o que outras tantas bandas estavam fazendo: replicando fórmulas.

Felizmente, tomamos um belíssimo e poderoso “não” em nossa cara, e V é a prova mais recente de que The Horrors é um conjunto que está em constante reinvenção. Em seu novo disco de estúdio, o grupo evita trabalhar com aquelas infinitas camadas de reverbs que nos davam a sensação curiosa de um afogamento em meio a simultaneas sonoridades. Vemos uma predileção nítida em compor e arranjar os elementos em função de gêneros como o Synthpop, abusando do uso de sintetizadores, mas ao mesmo tempo entendendo exatamente onde cada um deve ficar.

É claro que a banda não abre mão de inserir comentários e riffs lisérgicos entre os recorrentes sequenciadores e batidas eletrônicas, mas eles certamente estão bem mais comportados e dosados do que em registro anteriores. O curioso é que, mesmo com essa submissão ao Synthpop, o disco ainda tem uma aura bastante psicodélica, fato que só comprova o talento e habilidade que The Horrors tem em manipular e criar composições bastante hipnóticas e densas.

A capa do disco nos faz interpretar o trabalho como um organismo amorfo de muitas referências. Nós conseguimos identificar algumas figuras na arte, mas elas não são da natureza que as costumamos ver. Da mesma forma se comportam as sonoridades do disco: nós queremos chamar isso de Synthpop por identificar alguns elementos conhecidos, mas o que ouvimos é uma manifestação diferente. Faixas como o single Machine, Point Of No Reply e World Below demonstram esta dinâmica muito bem.

Mas também há momentos em que a intervenção é tão profunda e não conseguimos identificar um gênero próprio para enquadrar as composições perfeitamente. Press Enter To Exit, It’s A Good Life e Ghost são os melhores exemplos disso. De qualquer forma, mesmo que The Horrors se permita alterar as estruturas e timbragens essenciais de cada gênero, percebemos que isso não é feito de forma aleatória. Vale a pena reafirmar, este é um disco muito bem pensado e preciso, nada aqui está por acaso.

V pode ser um dos trabalhos mais audaciosos de The Horrors, desmistificando um pouco a estética psicodélica e mostrando que ela pode ser bem mais do que uma replicação de padrões. Com uma densidade inquestionável e um esmero cuidadoso com a produção, o grupo reafirma sua relevância ao trazer ao mundo um registro que é tão desbravador quanto investigativo. Uma obra para ser apreciada por todos os sentidos e em vários níveis, todos construídos precisamente.

(V em uma faixa: Machine)

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Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique