Resenhas

Cinnamon Tapes – Nabia

Álbum de estreia traz curadoria minimalista e te convida a visitar sentimentos da cantora

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Ano: 2017
Selo: Balaclava Records
# Faixas: 9
Estilos: Indie, Rock Alternativo
Duração: 36'
Nota: 3.5
Produção: Steve Shelley

“Após gravar a primeira parte, entendi que minhas composições sempre traziam algo que as conectava. Elas remetiam ao universo místico, com simbologias sobre o feminino, ao mesmo tempo em que me ajudavam a iluminar o lado menos doce da minha personalidade”. Essas são palavras de Susan Souza, cantora, compositora e cabeça do projeto Cinnamon Tapes. Sem pressa e muito bem pensado, Nabia, primeiro álbum de estúdio nasce a partir do isolamento entre Souza e Steve Shelley, ex-integrante da banda histórica Sonic Youth.

Aqui, a artista se propõe a uma experiência de despersonalização ao criar um alter ego capaz de ajudá-la a dissecar seus demônios interiores por meio do misticismo. Assim, entram em cena alusões à cultura pagã: pense na simbologia do tarô e nos arquétipos do zodíaco. Com ajuda desse alfabeto metafísico, Souza narra de maneira abstrata a trajetória de uma mulher do mar que passa viver na terra. Desiludida com a realidade, a personagem rompe com o passado para buscar outras vivências, só que agora pela superfície.

Para delinear esse caminho, a cantora se apoia na honestidade de sua voz cristalina que aparece sem efeitos. Grave e suave ao mesmo tempo, ela remonta o estilo da norte-americana Cat Power, sem cair na obviedade da mimesis. Sua entonação é mais contemporânea e não menos melancólica. As faixas Sol, Estrela e Lua (todas nomeadas a partir de arcanos maiores do baralho de Marselha) são um bom exemplo.

O instrumental que envolve tudo isso segue na mesma linha. Quem cumpre essa tarefa é a combinação limpa da guitarra, violão, piano e bateria construídos de forma bem precisa. Apesar da sonoridade estar distante do que Sonic Youth transparecia, as propostas dele e de Souza se casaram muito bem. As reminiscências, no entanto, aparecem de vez em quando. É o caso das canções Road e Cinnamon Sea, que lembram alguns dos artifícios do grupo que marcou profundamente a década de 1990.

Entre versos bilíngues e intimistas, a cantora te convida a ter uma experiência imersiva em uma melancolia acolhedora. Em Skull ela embala em uma letra com duras confissões nas quais o sentimento transborda. Acompanhada por um piano, Ventre encerra o álbum exaltando o feminino de uma forma libertadora.

Se o mar é a principal analogia de Nabia, o mérito de Susan Souza está em deixar a água límpida de modo que somos capazes de enxergar toda a riqueza da vida submarina.

(Nabia em uma música: Cinnamon Sea)

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BOM PARA QUEM OUVE: Papisa, Widowspeak, Cat Power