Resenhas

Oh Sees – Orc

Grupo californiano retorna com disco multifacetado

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Ano: 2017
Selo: Castle Face
# Faixas: 10
Estilos: Rock Alternativo, Rock Experimental
Duração: 50:12
Nota: 3.0
Produção: John Dwyer

Você está em busca de música calma, tranquila e simples, leitor? Então passe longe deste novo álbum de Oh Sees (antes com Thee, agora OCS), o combo amalucado presidido por John Dwyer. O sujeito é prolífico – seu grupo lançou cinco álbuns nos últimos dois anos, sem contar projetos paralelos e alter-egos – e tem um gosto por Rock além do alternativo, daquele que entra no terreno dos filmes B de terror, que mistura pedaços de gêneros meio moribundos – Heavy Metal, Progressivo Clássico – e os recria tal qual faria o Dr. Victor Frankenstein. Não é música pra todo mundo, pelo contrário, a centrífuga de influências e referências gira em velocidade máxima, mas pode ser um exercício divertido para os que tiverem disposição. Vamos dar uma olhada neste Orc?

Ele não é diferente dos álbuns que Dwyer tem lançado nos últimos tempos, sendo totalmente direcionados para os fãs da banda. São dez faixas com apelo pelo esquisito, que exibem longos solos de violino, bateria, guitarras, ora brincando com eles como instituições de um Rock mais “clássico”, ora subvertendo-os totalmente e, uma vez ou outra, levando-os bem a sério. A alternância de climas e a variedade de formatos é bem grande, mostrando que Thee Oh Sees é um grupo competente e virtuoso, que se esconde sob o manto da maluquice e da anarquia, instâncias que disfarçam virtudes para um senso comum bobão que se instalou no mundo de uns anos pra cá. Por essas e outras, é preciso dar uma destrinchada/esclarecida nessas opções que alguns artistas adotam. Dwyer as tem como pilares básicos de sua música e sua banda é reflexo exato disso.

A presença de quatro produtores, entre eles o discípulo Ty Segall e o próprio Dwyer, dá ao álbum um clima ainda mais diversificado, algo que favorece suas excentricidades ainda mais, como a presença da dupla de bateristas Dan Rincon e Paul Quattrone, que se mostram hábeis tanto na abertura garagista e enguitarrada de The Static God, quanto no progressivismo duelístico de solos de Raw Optics, a faixa de encerramento. Os mais de oito minutos de Keys To The Castle, com grandes partes instrumentais, especialmente com cordas solenes, são mais evidências da predileção de Dwyer por essas “línguas mortas” roqueiras, algo que funciona bem no ambiente de esquisitice que ele consegue erguer ao longo do álbum. Há mais coesão por aqui – talvez por conta desta fidelidade conceitual – do que em outros trabalhos anteriores, o que é paradoxal, se levarmos em conta a proposta. De qualquer forma, não dá pra não se divertir com detalhes legais, que pipocam por todos os cantos: o órgão que perpassa a floydiana estrutura de Cadaver Dog, a pedaleira invocada de efeitos em Paranoise e a calmaria climática de Cooling Tower, que tem sintetizadores e bateria capazes de evocar algo do Krautrock raiz.

Orc é um bom exercício de estilo (s) e vai fazer a delícia dos admiradores da banda e da mente caleidoscópica de John Dwyer. Podemos esperar novo (s) disco (s) a qualquer momento. Talvez eles estejam esperando na próxima esquina, no metrô, na gaveta do trabalho, na esteira da academia, podem estar em qualquer lugar.

(Orc em uma música: The Static God)

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.