Resenhas

Ben Frost – Threshold of Faith

Australiano faz EP com sonoridade instigante e aterradora

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Ano: 2017
Selo: Mute
# Faixas: 7
Estilos: Eletrônica, Eletrônica Experimental
Duração: 27:10
Nota: 3.0
Produção: Steve Albini, Ben Frost

Sabe filme de terror dos bons? Não me refiro a produções de “terrir”, toscas intencionalmente, feitas para fazer a gente gargalhar de vísceras e tripas que voam de um lado para o outro da tela. Falo de obras tensas, impressionantes, assustadoras e que não nos deixam dormir por dias. Sim, você pode escolher a sua, do seu jeito. Pois saiba que aqui está a trilha sonora perfeita para maus momentos. Ben Frost, compositor australiano radicado na Islândia, decidiu fazer Threshold Of Faith, um EP com 7 faixas cavernosas e inquietantes, que servem para sonorizar o seu pior pesadelo. E o mais interessante: o resultado é sensacional e tentador.

Com base na Ambient Music, devidamente deturpada por noções de Black Metal, Doom Metal e outros estilos extremos, Frost tem a parceria de Steve Albini na engenharia de som e manda ver nos clima sombrios. São timbres que variam em intensidade e magnitude, mas que, juntos, formam um painel multiuso para sonorizar seu lado negro da Força. A explicação é bem simples: todos temos medos, traumas, sentimentos mal explicados, coisas mal resolvidas em geral e nossa engrenagem mental trabalha para nos deixar aptos à vida em sociedade apesar desta carga negativa. De vez em quando, o mecanismo não dá conta do peso e somos atormentados por diversos tipos de medo e tensão, que podem ser potencializados por algum estímulo – filmes, discos, obras de arte em geral – ou que surgem como algo incontrolável, via síndrome do pânico, crise de ansiedade ou seja lá o que for.

Na hora em que o bicho está pegando, não lembramos de prestar atenção se há algum som, só queremos escapar. Porém, com a calma instalada e a curiosidade aguçada, o EP funciona como um interessante convite a trilhar caminhos esquisitos e estranhamente familiares. Da chuva de sintetizadores com samples de respiração/nebulização da faixa-título, que abre o disco, passando pelas gostas de gelo derretido na tarde cinza despovoada de All That You Love Will Be Eviscerated (que título, não?), chegando na insetívora mecânica de The Beat Don’t Die In Bingo Town, as canções se espalham como elementos de um próprio meio ambiente que vai se erguendo sem que você perceba até que seja tarde demais.

Para fechar o percurso, um remix bem mais pesado e sinistro de All That You Love Will Be Eviscerated e a não-apoteose de Mere Anarchy, com acordes sinfônicos que poderiam ser tocados, sei lá, no seu enterro. O melhor de tudo é, certamente, a noção precisa de que temos controle sobre essa tensão que sai das caixas de som, interrompendo as músicas, trocando-as, silenciando-as. Ou, quem sabe, ouvindo-as novamente. Leve para o seu terapeuta.

(Threshold Of Faith em uma música: Threshold Of Faith)

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.