Resenhas

HAIM – Something to Tell You

Trio norte-americano domina idiomas Pop com maestria

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Ano: 2017
Selo: Universal
# Faixas: 11
Estilos: Pop Alternativo, Pop
Duração: 42:34
Nota: 4.0
Produção: Ariel Rechtshaid, BloodPop e Rostam Batmanglij

Outro dia mesmo estava este escriba traçando algumas linhas sobre o mistério – fácil de resolver – do sucesso das irmãs HAIM. A conclusão a que cheguei tem dois aspectos: o talento das meninas, algo óbvio, mas que não esgota a questão completamente, e a boa capacidade que elas têm de escolher boas referências do Popzão Eletrônico de hoje e do Rockzão mais melodioso dos anos 1970/80, em doses cuidadosamente medidas, de modo a não fazer desandar esse molho. Este segundo álbum faz a gente acreditar que bandas como HAIM têm potencial para protagonizar o desfile de imagens do Pop mundial de hoje, talvez até deixando de lado os artistas que transitam nessa liga às vezes estranhas que é a ampliação Eletrônica da encruzilhada entre o Hip Hop e estilos derivados. Talvez este bom Something To Tell You seja, enfim, o álbum de Pop Alternativo por excelência.

Em primeiro lugar, gente, Pop é pra cantar junto, ficar impressionado com a belezura de encaixe entre versos e refrão, além de causar pequenos déjà vus auriculares em quem se dispõe a ouvir. É música engenhosamente colocada para parecer casual, na qual tudo é pensado. E, acima de tudo, Pop é música boa, bem feita, bem tocada. Todos estes predicados são muito contemplados pelas faixas deste disco. Além deles, os vocais, os arranjos, as soluções, tudo é bem feito e aponta para um novo competidor pela hegemonia planetária da música, sem qualquer exagero. As irmãs HAIM sabem cantar, compor e tocar, além de entenderem do assunto quando a demanda é forjar esta liga sonora que serve bem para cantar no estádio, dançar na noite e ouvir em casa, nos fones de ouvido, estudando, andando de metrô ou indo passar o fim de semana em algum lugar fora da cidade grande. As canções se moldam às necessidades cotidianas do ouvinte médio, as influências de Popzão californiano setentistas se casam com o baticum eletrônico do R&B dos anos 1990 e nada dá errado.

Não dá pra deixar de lado a competência da produção de Ariel Rechtshaid, sujeito que pilota o estúdio e faz a engenharia de som, além de tocar vários instrumentos. O cara já esteve envolvido em álbuns de gente tão diversa quanto Vampire Weekend e Usher; Madonna e We Are Scientists, só para termos uma ideia do universo musical que ele domina e entende. Dessa forma, Ariel funciona como facilitador dessa tarefa que parece fácil, a de apresentar essas canções infecciosas e multiformato, que se amoldam a este universo de demandas do ouvinte. Sendo assim, entre a expectativa criada após o último álbum, lançado há quatro anos, as participações em trilhas sonoras, as aparições em shows, tudo conspirou para que este segundo disco de Haim fosse um dos mais aguardados trabalhos de 2017. E ele não decepciona.

Há ótimos espécimes entre as onze faixas, alguns mais legais e com mais pinta de hit do que outros. Entre baladas, canções semilentas/semirrápidas, teclados oitentistas e bom sendo melódico, dá pra destacar a beleza que é o single Want You Back, a primeira faixa a ser ouvida deste álbum. Vocais lá em cima, arranjo arrojado e generoso e uma batida dançante à moda antiga, mas que soa moderna. You Never Knew, que é puro Fleetwood Mac, com uma levada solar e arejada, fluindo teclados, guitarras, baixo e bateria, além de vocais que emulam a banda em sua encarnação “Sunny California”, a partir de 1975. Kept Me Crying já é totalmente Synthpop/Tecnopop dos anos 1980, exagerada, com baterias eletrônicas, vocais de ascendência noventista R&B e uma ótima melodia que facilita o produto final. Found It In Silence tem teclados épicos em andamento mais rápido, fazendo um bom contraste e Walking Away parece uma canção de Destiny’s Child.

As duas faixas que encerram o disco, Right Now e Night So Long, são lentas, climáticas e corajosas, mostrando que o trio não tem medo de propor uma montanha russa de emoções e mostrar sua capacidade de lidar com melodias e arranjos mais lentinhos. No fim das contas, tudo funciona e este álbum deve dominar as paradas de sucesso planetárias por um bom tempo. E isso, amigos e amigas, é bem merecido.

(Something To Tell You em uma música: You Never Knew)

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BOM PARA QUEM OUVE: Jenny Lewis, Rihanna, Fleetwood Mac
ARTISTA: Haim
MARCADORES: Pop, Pop Alternativo

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.