Public Service Broadcasting é uma banda britânica com uma proposta muito específica: fazer álbuns temáticos sobre momentos variados da história do século 20. É uma espécie de música-documentário, com uma pegada atmosférica e certo engajamento político. Seu álbum de estreia trazia no título um resumo das pretensões didáticas do grupo: a banda veio para informar, educar e entreter (Inform, Educate, Entertain, 2013).
Com Every Valley o foco da vez é a ascensão e o declínio da indústria do carvão no País de Gales ao longo do século passado. Ouvir o trabalho é acompanhar a ascensão econômica de uma região sustentada apenas por um indústria, observar o declínio brusco do extrativismo conforme a ideia de progresso leva o planeta ao esgotamento físico, e o abandono dos trabalhadores pelo Estado – um efeito dominó que leva à saída do Reino Unido da União Européia, manobra que leva o nome de Brexit.
Para a gravação de Every Valley a banda se deslocou até um galpão onde funcionava um sindicato de mineradores, em uma tentativa de capturar, na prática, o climão de um local que preserva a atmosfera pesada do interior de uma mina com a tensão de uma revolta social. Musicalmente, no entanto, dificilmente encontramos todos estes pressupostos por aqui: Every Valley, embora traga pequenos excertos documentais com depoimentos dos trabalhadores, é uma viagem abstrata e contemplativa que reúne o Post-Rock de Mogwai à melancolia de The Radio Dept., passando pelo establishment do Rock instrumental edificado por gente como Roger Waters.
Embora haja esse descompasso entre o que a banda pretende fazer e o que de fato chega até nós, é interessante acompanhar o trabalho por uma ótica menos pretensiosa. Reforço os créditos para a banda que segue no caminho de conjugar uma linguagem musical única, trabalhando o caldo de sua própria fórmula que mistura som à história.
(Every Valley em uma música: Every Valley)
