Resenhas

SZA – Ctrl

Belo disco de estreia contrapõe temas profundos de gênero à sua sonoridade viajante de R&B

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Ano: 2017
Selo: Top Dawg Entertainment
# Faixas: 14
Estilos: Hip Hop, R&B
Duração: 49:00
Nota: 4.0
Produção: Bēkon, Best Kept Secret, Cam, O'bi, Carter Lang, Frank Dukes, LoveDragon, Pharrell Williams, Prophit, Punch, Scum, Stix, Terrace Martin, ThankGod4Cody

O amor, sua falta ou presença, é o tema central que toma Ctrl disco de estreia de SZA. Inseguranças, experiências românticas traumatizantes, lições aprendidas e a difícil tarefa de se manter no controle de situações que fogem à racionalidade são passadas ao longo de catorze faixas que deturpam a nomenclatura de rapper que lhe fora concedida: chamá-la de cantora parece muito mais adequado quando a densidade e dinâmica de suas composições é vislumbrada.

Sua tarefa é repleta de nuances complicadas: após uma trinca de EPs bem sucedidos, SZA chegou à poderosa TDE, casa e selo de Kendrick Lamar, tornando-a em pouco tempo a figura feminina da organização. Ctrl, no entanto, parece não ligar muito às pressões e soa tão natural e sincero que destoa um pouco das expectativas para um disco tão aguardado. Autoral e exposto a partir de versos extremamente pessoais, ele consegue ser ao mesmo tempo leve em sua sonoridade e marcante em suas letras, em um relato feminino importante na atualidade.

Suas letras passam por diversas fases de relacionamentos, desde o término inevitável como a linda abertura Supermodel (“I’m writing this letter to let you know/I’m really leaving/And no, I’m not keeping your shit”), a descrença nos sentimentos dos outros como em Garden(Say It Like Dag) (“Hope you never find out who I really am/’Cause you’ll never love me, you’ll never love me, you’ll never love me”), até a sua aceitação na balada “romântica” Drew Barrymore (“I’m sorry I don’t shave my legs at night/ I’m sorry I’m not your baby mama/ I’m sorry you got karma comin’ to you”).

Tais cortes abertos e profundos colocam SZA exposta lidando com diversas inseguranças que passam integralmente por relações que a traumatizaram. Tal temática pode parecer mundana e comum, mas aqui é colocada de forma musicalmente delicada. O disco é viajante, proposta que sempre esteve ligada às obras passadas da cantora, mas com mais Groove nas batidas e sem perder o seu espírito sonhador. Sem a perspectiva lírica, Go Gina, The Weekend ou Broken Clouds poderiam estar entre as baladas mais gostosas musicalmente de 2017 – no entanto, quando tais faixas são vistas sob a ótica de SZA e suas letras, o impacto é revelado.

The Weekend poderia ser somente um R&B para se dançar com alguém, mas, logo no primeiro verso, SZA desconstrói o romance: “You say you got a girl/ How you want me?/ How you want me when you got a girl?”. A cantora é o fim de semana do título, enquanto a namorada de seu romance é o dia útil – sua conclusão: não existe “meu homem” pois tal atribuição é compartilhada por outra mulher e assim por diante, infelizmente. Agraciado por linhas de baixo melódicas, batidas envolventes e sintetizadores esfumaçados, o ouvinte é conquistado e abraçado, porém os versos marcantes que trazem a mensagem da obra.

Cria-se um som com linhas envolventes, que deveriam trazer homens com ouvidos atentos para entender o recado de suas atitudes machistas. Coloca-se até Kendrick Lamar para falar sobre os valores da vagina em Doves in The Wind (“How many niggas get mistaken for clitoris in a day?/How many sentiments you make before runnin’ pussy away?”) sem roubar o protagonismo de SZA: “High key, your dick is weak, buddy /It’s only replaced by a rubber substitute/ We ain’t feelin’ you”. Sua voz é sempre a mais importante e vibrante aqui, como na excelente Love Galore com Travis Scott: “Done with these niggas/ I don’t love these niggas/I dust off these niggas”.

O controle, por fim, do título do disco, vem das próprias inseguranças da cantora, e seus versos funcionam como um basta para situações repetitivas e comuns: ter autocontrole para não se prender aos erros do passados. A mistura entre temas tão profundos com um R&B contemporâneo viajante com elementos de Hip Hop, Trap e Neo Soul em Ctrl trazem uma SZA que nunca esquece quem é.

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BOM PARA QUEM OUVE: Princess Nokia, Solange, Beyoncé
ARTISTA: SZA
MARCADORES: Hip Hop, Neo Soul, Ouça, R&B

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.