Resenhas

Bleachers – Gone Now

Produtor e guitarrista procura recriar sonoridades familiares e oitentistas

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Ano: 2017
Selo: RCA
# Faixas: 12
Estilos: Pop Alternativo, Rock Alternativo
Duração: 40:37
Nota: 3.5
Produção: Jack Antonoff, Emile Haynie, Organized Noize, Greg Kurstin, Vince Clarke, Nineteen85, Sounwave, John Hill

Jack Antonoff é mais um desses sujeitos nascidos na década de 1980 que desejam que ela retorne, gloriosa, para os nossos dias. É típico de um movimento muito simples, a memória afetiva. Certamente ele tem suas recordações de paraíso infantil centradas naquele tempo, quando tudo era conforto, segurança e felicidade. Para dar o referencial sensorial, a música. As sonoridades de paraíso, para caras como ele, estão todas lá, preservadas pelas enganosas artimanhas do cérebro, que depura o mal e as trivialidades, enquanto preserva apenas o que queremos lembrar. Tudo isso acontece com todo mundo e teremos gente com saudade de referenciais culturais de valor pra lá de duvidoso em questão de 20 anos, no máximo. É esperar pra ver.

Antonoff é produtor e integrante da banda fun. Formou Bleachers para dar vazão a esta veia afetiva e, claro, para se divertir com suas relembranças afetuosas. Suas criações parecem ter um objetivo comum: participar de trilhas de filmes de John Hughes, responsável por clássicos dos 80’s como Curtindo A Vida Adoidado, Gatinhas e Gatões, Clube dos Cinco e Garota de Rosa Shocking, todos recheados de boas referências musicais em suas trilhas sonoras. Evidente que Bleachers tenha todos esses tiques e taques daqueles tempos nas doze boas faixas deste Gone Now, que se mostra bem curtível e leve na maioria do tempo. Além da revisita àqueles tempos, algo que poderia se dar com leveza e certeza de que tudo está em seu lugar, Jack tem saudades de lá. Tudo isso fica evidente em vários momentos, mas nunca chega a incomodar o ouvinte, especialmente o que não conheceu aquela década, a não ser por discos e produtos que procuram emulá-la, como este.

A produção tem gente demais, contando com mais sete pessoas além de Jack. O destaque fica por conta da presença de um veterano octopode tecladeiro, com ótimos serviços prestados a bandas como Depeche Mode, Yazoo e Erasure, Vince Clarke. Foi um dos arquietos do que entendíamos por Tecnopop nos anos 1980, algo dançante, europeu, quase sempre gay e melódico. A diversidade de gente na pilotagem no estúdio, no entanto, não atrapalha o resultado final do álbum, prevalecendo esta visão emocional e emotiva de Jack. E o sujeito mão inegavelmente boa para confeccionar eficazes chicletes Pop. As duas primeiras canções são exemplares: The Dream Of Mickey Mantle (nome de um ex-jogador de baseball, falecido em 1995) e a beatlemaníaca Goodmorning, que vem com o versinho “Because I like to your face, you had long hair then”, fazendo a gente ter certeza da busca pela saudade e sua devida curtição como meio de fazer existir um tempo ideal, mesmo que já tenha passado. Acontece.

Ainda há mais belezuras por aqui. Everybody Lost Somebody tem fluência perfeita e bom uso de vocais de apoio, Don’t Take The Money é bonitinha e ostenta uma participação de Lorde, enquanto a melhor canção chega lá no meio do álbum, sob a forma de belezura ensolarada e nostálgica, I Miss Those Days, que confirma a análise psicomusical deste crítico, quando Jack diz que sente saudades dos dias em que andava pelado, não precisava se vestir para as ocasiões, comprovando as saudades dos tempos ideais de infância e partindo para os greatest hits de sua primeira adolescência. Tudo é natural, espontâneo e traz uma ótima verve musical, seja de composição, seja de arranjos.

Dizemos sempre que o melhor combustível para a vida é a sinceridade. Se há algo preponderante ao longo das faixas de Gone Now é, justamente, ela. Jack Antonoff abraça o passado, o traz para seu presente e decide compartilhar com seus ouvintes. Tudo funciona e o resultado é um sorriso de identificação na cara sisuda do crítico musical.

(Gone Now em uma música: Goodmorning)

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BOM PARA QUEM OUVE: The 1975, Mika, Young the Giant
ARTISTA: Bleachers

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.