Resenhas

Pond – The Weather

Banda australiana aproxima-se do Pop e consolida a mutação sonora como sua característica mais forte

Loading

Ano: 2017
Selo: Marathon Artists
# Faixas: 10
Estilos: Rock Psicodélico, Psych Pop
Duração: 39:00
Nota: 4.0
Produção: Kevin Parker

Quase cinco anos depois, a saída de Nik Allbrook do grupo Tame Impala e seu consequente foco aos seus projetos solos, entre eles Pond, parece ter surgido efeito – ambas as bandas pareciam seguir caminhos e fãs semelhantes, mas podemos afirmar que a segunda é muito mais mutante que a primeira. As comparações, naturais e até saudáveis, parecem ter mais sentido em 2012 quando ambas lançaram discos marcantes em sua carreira, Lonerism e Beard, Wives, Denim, respectivamente. Após esse período, no entanto, o que pudermos ver é o experimentalismo correndo solto na cabeça de Nik.

Passando pelo pirado e incrível Hobo Rocket até o Glam de Man, it Feels Like Space Again, pudermos ver uma inclinada rumo ao Pop sem volta – o Rock Psicodélico de outrora parece ter se fundido ao gosto atual do eterno produtor da banda, Kevin Parker, e torna The Weather um disco de Psych Pop marcante. Ao longo de dez faixas distintas e, por vezes, épicas, Nik desponta como um frontman muito mais enérgico e vital que Parker, trocando a névoa de reverb por atuações interessantes. 3000 Megatons e Sweap Me Off My Feet e Colder Than Ice são provas vivas de que Albrook pode sim ser um líder para o grupo, enquanto Colder Than Ice denota a versatilidade que o Pop oitentista e carregado de sintetizadores proposto aqui pode chegar.

Destacam-se dois momentos, divididos em duas partes. Edge of The World narra a vida da pacata e ambígua Perth, tema central de The Weather. A cidade, sob a ótica do vocalista, é um lugar carregado de contradições sua histórica colonização que criou um povo australiano sem ser realmente “australiano”, um lugar em que pessoas “tentam viver de forma respeitosas enquanto são completamente desrespeitosas com os demais”. Ambas são faixas épicas e absorventes trazendo os melhores elementos da psicodelia de Pond – o último minuto da parte dois é o grande exemplo disso. No entanto, apesar da unidade e de hits certeiros (como a dançante Paint Me Silver), existe muito experimentalismo e fuga de estereótipos, trazendo um disco disforme que não fica preso a uma única ideia.

Antropofágico às ideias de Parker e da cena australiana vivenciada, Pond parece ter caminhos mais diversos e sinuosos que o seu par conterrâneo. Mutante, o grupo parece viver cada momento de uma forma distinta, algo que chega em The Weather com muito mais sentido – estão aqui vestígios de Hobo Rocket em A/B e Man, it Feels Like Space Again em Zen Automaton, mas todos absorvidos nessa camada Pop deliciosa que abraça o disco como um todo. Mostra-se, assim, uma obra de introdução efetiva a sua extensa discografia ao mesmo tempo em que é algo completamente novo. A experiência de ouvir o disco torna-se, por fim, uma grande questão: qual tipo de Pond você gosta mais?

Loading

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.