Resenhas

Blaenavon – That’s Your Lot

Disco de estreia do trio traz angústias da juventude de forma densa e bela

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Ano: 2017
Selo: Transgressive Records
# Faixas: 12
Estilos: Post-Rock, Indie Rock, Chamber Pop
Duração: 57:00
Nota: 4.0
Produção: Jim Abbiss

A juventude é nossa primeira grande experiência com a frustração, fato que vem se intensificando bastante nas últimas décadas. Não é à toa que, de uns anos para cá, a sonoridade apreciada por jovens, ainda que diversa, vem procurando referências melancólicas e distorcidas para dar voz a este processo sofrível e definitivo nas nossas vidas. Desde os dissonantes acordes de Sonic Youth, até recentes releituras do Emo do final dos anos 90, o fato é que a música tem sido uma ótima companheira para estes momentos e, uma das bandas que mais parece se identificar com esta proposta psicossocial é Blaenavon. O trio começou a compor cedo, quando alguns integrantes tinham 16 anos, e toda esta ideia de “música angustiada” era apenas um reflexo de uma realidade altamente presente. Agora, o grupo reuniu esforços para lançar seu primeiro disco de estúdio e o resultado, apesar de previsível, foi duro.

Alguns podem encarar That’s Your Lot como apenas um disco de Indie Rock jovial, mas o que traz grande destaque à obra é justamente ela chamar atenção dentro deste escopo. Produzido por Jim Abbiss, responsável por grandes obras do Indie britânico, o trabalho aglomera sonoridades de diversas naturezas na tentativa de remeter ao grande espectro emocional sentido durante esta fase. Há aqueles timbres de guitarras típicos, mas eles acabam servindo mais como um elemento de composição das ambientações difusas do que como um estereótipo que pudesse colocar injustamente este disco no meio de tantos outros genéricos. Blaenavon tem muitas dúvidas, mas também tem à mão recursos infinitos para tentar nos mostrar qual a natureza de cada uma destes questionamentos, ou de um conjunto geral. Flertes com Post-Rock, Noise e Chamber Pop ilustram esta bem esta relação antagônica de caos-harmonia e parte do encanto é tentar decifrar e entender como as coisas são pouco dicotômicas em nossa cabeça.

Take Care já abre o trabalho introduzindo uma ambientação suave que aos poucos dá espaço uma energética batida com riffs de guitarra desconcertantes. Let’s Pray cede espaço aos estereótipos de bandas como The Vaccines, integrando a condição de ingenuidade ao espectro do disco. My Bark Is Your Bite, por sua vez, arrisca uma melodia mais melancólica, com uma influência clara de The Smiths só que mais soturna. Let Me See What Happens Next nos leva para o fundo do poço, com uma das canções mais emocionais e tocantes do disco, com lindas frases de piano. Ode To Joe traz um toque assustador a esta expedição psicológica, com um trabalho sutil de reverbs que nos coloca dentro de um espaço vazio e grande, tal como nos sentimos às vezes. Swans, a maior faixa do disco, acompanha uma montanha russa emocional, nos fazendo despencar de repente em abismos obscuros com percussões profundas. Por fim, a composição que dá nome ao registro encontra um caminho perfeito na junção de Death Cab For Cutie com Happy Diving.

Assim, Blaenavon consegue transparecer em seu disco de estreia uma maturidade incontestável que, ao mesmo tempo que reconhece o caráter jovial de sua obra, usa deste mesmo aspecto para arrebatar o público e nos deixar totalmente sem fôlego. Um álbum brilhantemente confuso.

(That’s Your Lot em uma faixa: My Bark Is Your Bite)

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BOM PARA QUEM OUVE: Jaws, Peace, The Smiths
ARTISTA: Blaenavon

Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique