Resenhas

King Gizzard & The Lizard Wizard – Flying Microtonal Banana

Nono disco da banda se aventura pelo universo da música microtonal

Loading

Ano: 2017
Selo: Flightless/ATO/Heavenly
# Faixas: 9
Estilos: Rock Psicodélico, Rock Progressivo
Duração: 42:00
Nota: 4.0
Produção: King Gizzard & The Lizard Wizard

Cada vez que o conjunto australiano King Gizzard & The Lizard Wizard anuncia um novo disco, fica mais evidente de que não estamos lidando com uma banda qualquer. Com a marca impressionante de nove discos em sete anos de atividade, o grupo fez de cada registro seu um laboratório de possibilidades infinitas e uma válvula de escape imediata para o constante acúmulo de novas ideias durante o intervalo entre lançamentos. Mesmo que eles apresentem uma identidade sonora bastante coesa e parecida, a produção de cada um é única e, portanto, os resultados nunca serão iguais e/ou parecidos. Assim, rumando para sua nona produção, o grupo optou por questionar um aspecto musical que raramente é questionado: a afinação dos instrumentos.

Desta vez, King Gizzard… se aprofundou pelo universo inexplorado da microtonalidade, no qual a afinação de um instrumento não usa como menor unidade o semitom. Assim, entre um Mi e um Fá, existem outras notas que criam novas possibilidade no campo harmônico e melódico. Parece papo de músico doido, mas o que você esperava de um disco chamado Flying Microtonal Banana. O uso desta nova dimensão de acordes, por assim dizer, traz um desafio não só para o ouvinte, mas para a própria banda.

Para nós, a estranheza advém do sentimento de que as coisas não estão perfeitamente afinadas, afinal, raramente paramos para escutar um disco com essa dinâmica. Já para o grupo, o desafio reside em evitar cair em lugares comuns da música microtonal, como por exemplo o mantra uníssono, e fazer seus ouvintes se lembrarem de alguma forma da sonoridade psicodélica do grupo. Desta forma, a banda australiana produz seu disco mais desafiador até agora e, para nós, isso se revela um exercício interessantíssimo.

As coisas parecem se encaminhar de forma progressiva, à medida que a primeira faixa, Rattlesnake não traz esse conceito microtonal tão exacerbado, mas em nuances suaves que apenas causam um estranhamento suficiente para nos prender a atenção. A partir de então, começamos a perceber as coisas mais claramente. Melting compõe uma sensação de imprevisibilidade melódica com ápice no solo de guitarra que quase nos irrita por não se encaixar no modelo macrotonal, irritação que é genuinamente interessante. Sleep Drifter começa quase com riffs sonicyouthianos e evolui para um hipnótico rock típico da identidade da banda. Billabong Valley praticamente nos obriga a perceber as novas possibilidades do microtonalismo, na melodia distorcida que lembra instrumentos de sopros da música indo-arábica. Já Nuclear Fusion, como o próprio nome sugere, tenta fazer a fusão máxima da inovação e da tradição, invocando o novo universo harmônico a favor de um arranjo que potencialize o fator lisérgico já conhecido e consolidado pela banda em seus discos.

Flying Microtonal Banana é mais comprovação de que King Gizzard… traz vivo o espírito do experimentalismo para sua obra, no sentido da inovação pela e constante. Segundo a banda, podemos esperar mais quatro lançamentos em 2017 e, se basearmos nossas previsões neste último trabalho, podemos esperar discos cada vez mais ousados e fora das zonas de conforto de cada um. Por ora, ficamos com um trabalho extremamente desafiador e, ao mesmo, interessante. Um exercício de constante balanço entre a inovação e a tradição. Talvez, o melhor de King Gizzard… até então.

(Flying Microtonal Banana em uma faixa: Sleep Drifter)

Loading

Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique