Aparecendo de relance em meio aos holofotes musicais da última década, o músico californiano Stephen Bruner – mais conhecido por sua alcunha Thundercat -, vinha preparando, através de seu networking profissional e afetivo, o terreno para o florescimento de sua carreira solo. Após o lançamento de dois álbuns (The Golden Age of Apocalypse e Apocalypse), e da participação coadjuvante ao lado de nomes como Flying Lotus, Kamasi Washington e Kendrick Lamar, é chegada a vez de Bruner de brilhar no protagonismo de seu Drunk, assessorado por seus amigos de peso.
Drunk é uma mistura embriagada de estilos musicais que já eram correlatos, mas que se tornam aqui completamente indistinguíveis em uma massa musical cheia de groove. É uma ode ao Soul oitentista, temperada pelo Jazz Fusion, pelo R&B, pelo Rap e pela Chillwave contemporânea. Não necessariamente nesta ordem.
Thundercat é um baixista virtuoso, e isso traz algumas implicações muito originais à sua música. Em primeiro lugar, suas melodias deslizantes e pungentes parecem soar sempre em segundo plano, disfarçado em um território indistinto no qual ouvidos leigos provavelmente classificariam como puro feeling. Em segundo, dada a sua habilidade com o instrumento, debulhando suas cordas da maneira como faz, ficaria fácil elencá-lo como um entre os grandes jazzistas eruditos.
No entanto, o modo como Bruner escolhe suas letras deixam claro que ele é um artista inconstante, que varia seu humor entre o de um moleque, de um jovem adulto, ou de uma pessoa madura, dependo do tema sob o qual canta. Pode ser ingênuo quando canta sobre ser um gato em A Fan’s Mail (dica, o refrão é “miau miau miau miau”), sobre Dragon Ball Z em Tokyo, ou sobre ficar preso na friendzone em Friend Zone, provocativo quando fala sobre a futilidade das redes sociais em Bus in These Streets, ou político quando se manifesta sobre ser negro e norte-americano em Walk on By.
Musicalmente, Thundercat também varia livremente; ou melhor, abarca estilos sem preconceitos em seu caldeirão de 23 faixas. Evoca Stevie Wonder, evoca Toro Y Moi e, é claro, evoca seus comparsas Flying Lotus, Kamasi Washington e Kendrick Lamar dependo do contexto das faixas dentro do andamento do trabalho.
Essa abordagem despreocupada, que acaba por desmistificar limites entre estilos, técnica e feeling, ingenuidade e maturidade, e, enfim, curtição e seriedade é o que dá a Drunk seu ar envolvente e jovial, colocando-no entre os lançamentos mais interessantes da temporada.
(Drunk em uma música: Show You the Way)