Resenhas

Oliver Wilde – Post-Frenz Container Buzz

Músico incorpora o erro como parte constituinte de sua música

Loading

Ano: 2017
Selo: Amplify Music
# Faixas: 12
Estilos: Indie, Experimental
Duração: 55
Nota: 4.0
Produção: Oliver Wilde, Connor Jones

Dentre as fórmulas pessoais que fazem Oliver Wilde ser o músico que é, talvez aquela mais em evidência seja o modo com que o artista compõe seus títulos, misturando um palavrório intrincado que evoca uma complexidade impenetrável em sua música. De fato, muito do que o artista britânico faz está disfarçado de inacessível, no entanto um olhar mais generoso para sua obra revela sem dificuldade uma vulnerabilidade humana imanente aos seus ruídos eletrônicos.

Basta prestar atenção para a faixa de abertura de seu novo trabalho, intitulado Good Kind of Froze, que começa com um ruído semelhante ao erro de um computador e expõe de forma sucinta tudo aquilo que percorre esteticamente a música de Oliver Wilde. É disso que são compostos seus trabalhos A Brief Introduction to Unnatural Light Years, Red Tide Opal In The Loose End Womb, o EP A Long Hold Star An Infinite Abduction e, finalmente, Post-Frenz Container Buzz: uma transformação do erro, do ruído e do incômodo em uma expressão melancólica cheia de melodia.

Como todos os seus trabalhos seguem a mesma lógica – mesma fórmula aplicada à capa, aos títulos, à roupagem sonora e ao modo de escrever suas letras -, fica difícil traçar um limite discernível entre cada um, contudo, em Post-Frenz Container Buzz, Wilde parece atentar-se para contextos e narrativas vindas de outras pessoas, e não se mantém de olhos fechados pensando em sua própria dor. E isso se reflete em uma música progressivamente mais generosa e acessível, sem abrir mão da complexidade conquistada anteriormente.

Atuando em um meio de campo que mistura influências de Sparklehorse, Daniel Johnston e Elliott Smith, a música de Wilde é composta de saturação. Sobrecarregadas de informação, as músicas utilizam o recurso do glitch, da distorção e do Lo-fi como parte constituinte do estilo musical do artista. Não se trata meramente de escolher uma roupagem para melodias pré-determinadas, e sim, ao contrário, de imprimir no DNA da música aquilo que poderia ser percebido como uma falha de caráter: aquele meio tom dissonante da fita K7 fora de andamento, a cor dessaturada de um cabo de vídeo com mal contato, ou o chiadeira de um compressor desregulado. Tudo isso servindo àquele que parece ser o mote existencial do compositor, ou seja, a ideia de que existe beleza na dor, e nossas falhas são determinantes na construção de nossa personalidade.

A idiossincrasia de Oliver Wilde torna-o um artista epítome da contemporaneidade. Atento às possibilidades musicais do presente, mas também deslocado deste na medida em que parece ter um visão distanciada de si mesmo, Post-Frenz Container Buzz se agarra à coisas que não são necessariamente suas, e se afasta daquelas que são: é uma homenagem à dor e o erro, disfarçados em formato musical.

(Post-Frenz Container Buzz em uma música: You’re So Cool Aid)

Loading

BOM PARA QUEM OUVE: Sparklehorse, Heatmiser, Daniel Johnston
ARTISTA: Oliver Wilde
MARCADORES: Experimental, Indie, Ouça

Autor:

é músico e escreve sobre arte