Resenhas

Muna – About U

Trio americano faz Pop certinho e intencionalmente datado

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Ano: 2017
Selo: RCA
# Faixas: 12
Estilos: Synthpop, Pop
Duração: 48:02
Nota: 3.0
Produção: Muna, Dan Grech-Marguerat

Muna é um trio de ex-colegas da University Of Southern California, formado por Katie Gavin, Naomi McPherson e Josette Maskin. Desde que se conheceram e partilharam o gosto pelo Synthpop e pelo Popzão oitentista mais tecladeiro (quase a mesma coisa), as meninas decidiram formar uma banda, uma vez que Naomi e Josette sabiam tocar guitarra e todas tinham boa voz e arranhavam timbres no teclado de forma satisfatória. Num espaço de tempo de dois anos, as três saíram dos dormitórios da USC, gravaram dois EPs e lançaram este primeiro disco, por uma grande gravadora, a RCA. Destrinchemos então este About U.

Parece fácil, né? E talvez seja, uma vez que não há absolutamente nada de especial na música do trio. São canções corretas, com arranjos muito parecidos – cortesia das meninas e do produtor Dan Grech-Marguerat – que ora colocam as faixas sintonizadas com a produção Pop padrão de hoje, ora se esforçam para soar como se fossem algumas musiquetas das paradas de sucessos de 1987. Este é o caso da segunda faixa do álbum, Loudspeaker, em midtempo, com boa performance vocal de Katie e um instrumental dedicado a emular este passado tecladeiro/dramático/aveludado. Talvez faça a cabeça do pessoal mais jovem, que não estava por aqui quando estas músicas dominavam a Terra, mas não guarda qualquer atrativo para seres velhuscos ainda em atividade, caso do vosso querido crítico musical.

Ainda que haja esta vontade de emular o fim dos anos 1980, o trio acerta em alguns momentos. I Know A Place é uma passagem segura no Túnel do Tempo para 1986. Tem tecladões fazendo linha de baixo/bateria, percussão eletrônica datada, baticum sintético dobrando a bateria, tudo feito com esmero e precisão de colecionador de maneirismos. As meninas tem certa habilidade para fazer melodias cantáveis, com bons refrãos e linhas melódicas convincentes. Dentro desta característica, há uma queda pelo drama e por certos momentos bombásticos, que contribuem a favor. É o caso da boa canção Promise, que lembra aquelas cantoras tipo Bonnie Tyler, caso esta tivesse nascido em meados dos anos 1990.

Outro bom momento com acento dramático está na synthpopíssima Crying On The Bathroom Floor, cujo título já entrega a desgraça total que está a vida da protagonista da letra, abandonada, ferrada, mal paga, provavelmente desempregada ou vivendo de freelas que sumiram com a tal crise. Ou não. Mas o fato é que o trio convence nesse tipo de canção, na qual imaginamos o artista cantando e tocando à beira de um precipício, com roupas platinadas sob um céu apocalíptico, mas com a certeza de que tudo melhorará no final. No mesmo esquema, mas com afinidades estéticas com comerciais de automóveis, vem End Of Desire, no qual podemos imaginar algum sedã branco, motor 2.0, guiado por um bonitão, que encontra uma bonitona em alguma curva da estrada e tudo passa a fazer sentido. Não se enganem com a descrição, a música é boa.

Muna é esquecível no melhor sentido do termo. As próprias moças não têm qualquer intenção de cravar seu nome na história ou fazer canções que vão povoar as lembranças de muitas pessoas daqui a 5, 10 anos. São bons espécimes dançantes, cantantes, feitos para o consumo aqui, agora, sem frescura. Têm seu valor, portanto.

(About U em uma música: I Know A Place)

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ARTISTA: Muna
MARCADORES: Pop, Synthpop

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.