Resenhas

Chico de Barro – Nogueira

Disco de estreia é retrato muito bem executado e sensível das emoções de Nathanne Rodrigues

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Ano: 2017
Selo: Efusiva
# Faixas: 5
Estilos: MPB, Post-Rock, Emo
Duração: 18:00
Nota: 4.0
Produção: Nathanne Rodrigues

Um disco nunca é apenas um disco. É um recorte impreciso de um período da vida do compositor que, quando feito de forma sincera, consegue repassar quase que fielmente todo o espectro emocional específico de quando essas músicas foram feitas. É uma tarefa árdua e são poucos que conseguem realizá-la de uma forma plena e verdadeira mas, de vez em quando, um nome surge para desafiar as barreiras do confessional. Desta vez, quem nos surpreendeu foi Chico de Barro, um trio carioca liderado pela multi-instrumentista, compositora, produtora e engenheira de som Nathanne Rodrigues.

As vivências dela são as protagonistas de Nogueira, com referências que permeiam um território fértil ao Emo, Post-Rock e à MPB. Mas, o que Nathane nos expõe não é simplesmente uma narrativa daquilo que foi vivido, mas sim, uma simulação extremamente realista que tenta nos sensibilizar por meio de sonoridades tensas, reverberadas e doces. É como se o registro fosse uma espécie de museu-mental da compositora onde, assim que entramos, temos os cinco sentidos direcionados a experienciar todo o dilúvio emocional que foram estes episódios, entendendo o peso e a carga de cada um teve em sua vida. É positivamente um dos discos mais sinceros que a cena independente já nos presenteou, como se fôssemos ao mesmo tempo os melhores amigos de Nathanne e também seu psicólogo.

Por Aí é a porta de entrada por uma história dolorosa de uma perda, sustentada por uma cama de sintetizadores oníricos e reverbs eficazes em nos transportar para um mundo totalmente composto pelas memórias de Nathanne. O single Nogueira é traiçoeiro, à medida que nos seduz com versos suaves e doces para logo depois nos jogar no chão com um refrão destruidor que canta: “Eu sei que você não quis tentar com medo de querer”. Ilusão nos deixa aflitos pela espera e descaso que o eu-lírico sofre e escreve seu desabafo em uma maneira de tentar tirar o peso do anseio (ainda que, ironicamente, cause mais aflição). Transbordar retoma aquela ambientação etérea criada por sintetizadores bem inseridos, quase como se fosse um sonho apaixonado que a protagonista vive. Amarela termina o disco de uma forma cortante, em um lamento profundo que nos deixa jogados ao chão com as últimas palavras em nossas cabeças: “Você vai procurar?/Alguém melhor que eu/Que faça por você o que eu não soube fazer”.

Chico de Barro faz uma estreia marcante da cena independente carioca e brasileira. Nathanne Rodrigues exibe um trabalho sincero e terno, com uma coragem ímpar de expor não só uma história, mas todo o caldeirão de emoções que permeou sua cabeça para compor estas canções. Como ela diz, “você não sabe o quanto caminhei” e realmente: nunca saberemos. Mas com Nogueira podemos ter uma noção do Tudo particular de Nathanne.

(Nogueira em uma faixa: Nogueira)

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BOM PARA QUEM OUVE: Terno Rei, Carne Doce, Ludov
MARCADORES: Emo, MPB, Post-Rock

Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique