Resenhas

Joan Of Arc – He’s Got the Whole This Land is Your Land in His Hands

Grupo de Chicago mistura experimentalismo e Eletrônica

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Ano: 2017
Selo: Joyful Noise
# Faixas: 11
Estilos: Experimental, Rock Alternativo
Duração: 39:29
Nota: 2.5
Produção: Mike Kinsella

Joan Of Arc, projeto dos irmãos Mike e Tim Kinsella, chega ao seu 21º álbum, este esquisito He’s Got the Whole This Land is Your Land in His Hands. Grupo paralelo dos irmãos, que tiveram sua origem na interseção entre Post Rock e Emocore, lá na cena alternativa da Chicago dos anos 1990 (a mesma que produziu bandas como Wilco e Tortoise), Joan é quase um ilustre desconhecido nas terras ao sul da América e sua natureza quase eminentemente experimental pode explicar o desinteresse. Ainda que tenha um simpático e bem-vindo DNA político e contestador indissociável de sua música, Joan talvez peque por não conseguir dosar o equilíbrio na velha equação que exige atenção à variavel Música. Sem este cuidado, por melhores intenções que tenha um artista, a vaca irá para o proverbial brejo.

Este é o caso aqui, infelizmente. Nem a chegada de uma nova integrante, no caso, a cantora e letrista Melina Ausikaitis, evita um certo desânimo. A sensação é exatamente esta: um grupo está lá, diante dos nossos ouvidos, fazendo música como “manifestação artística de protesto” e nós, público, não estamos nada animados com isso. Não dá vontade de se indignar com nossos próprios demônios, sejam eles pessoais ou coletivos, nem atacar a sociedade, o sistema, destruir a televisão da sala, nada. É uma certa sensação de banalização do ato de ir além de fronteiras que se derretem a cada dia (alô, Bauman, descanse em paz). O caso talvez não seja pra tanta erudição, uma vez que a música é fraca mesmo.

O pior é que, mesmo com composições ruins, é possível perceber que os caras têm talento e senso melódico. Várias faixas surgem como primos contemporâneos de canções de Art Rock ou Art Punk da virada dos anos 1970/80, mas permeadas por um clima que vem do Alternativo americano dos anos 1990, causando uma confusão de estilos e influências que se contradizem e quase se anulam. O single This Must Be The Placenta dá uma ideia disso, soando como uma cruza de Public Imnage Ltd com Pavement, na qual a largação sonora intencional do segundo anula a preocupação vanguardista do primeiro. Este é só um exemplo num álbum de 11 faixas no qual todas surgem como boas ideias que não foram bem executadas, às vezes por um triz.

Bons exemplos desses quase-acertos estão por várias partes. Full Moon And Rainbo Repair tem uma levada em midtempo, ruídos de teclados, acordeão, clima modernista desafiador e uma linha melódica satisfatória, que soaria muito simpática se a preocupação maior fosse com a estrutura da canção. O bom protesto de New Wave Hippies faz dela uma canção legalzinha, experimental e amalucada, mas que poderia render mais. As guitarras repetidas e mixadas em bloco de Ta-ta Terrordome também são interessantes, mas a letra declamada, ao invés de dar uma impressão de maluco com placa “O Fim Está Próximo” pendurada no pescoço, nos faz crer que estamos diante de um pós-adolescente, estudante de publicidade, tentando soar chocante e descolado. Além disso, há bobagens totais como Stranged That Egg Yolk ou Cha Cha Chakra, F Is For Fake, próximas do indefensável. Convenhamos, é pouco.

Este novo trabalho de Joan Of Arc é curioso e talvez cresça após algumas audições, permitindo ao ouvinte mais dedicado – bota dedicação nisso! – um acesso mais íntimo ao mundo incongruente do grupo. Se você estiver disposto/a, caia dentro. Não será, contudo, uma tarefa fácil.

(He’s Got the Whole This Land is Your Land in His Hands em uma música: Full Moon And Rainbo Repair*)**

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BOM PARA QUEM OUVE: Luna, Pavement, Public Image Ltd.
ARTISTA: Joan Of Arc

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.