Grouper é o talento e a sensibilidade de Liz Harris, uma cantora e compositora de Portland, no estado americano do Oregon. A cidade é um dos centros da nova música ianque e leva, junto com Austin, Memphis e o distrito novaiorquino do Brooklyn, adiante a missão de repovoar de ideias o cenário musical americano. Liz é uma fiel seguidora das sonoridades oitentistas de inverno, investindo naquela musicalidade diáfana, cinzenta, cheia de vocais, teclados e efeitos que, juntos, dão a impressão que uma floresta gelada está, em uníssono, cantando pra nós. É um caminho que gente graúda como Cocteau Twins já pavimentou e que ainda rende um bom caldo. Aqui, entretanto, ao contrário dos momentos de cor intensa que a banda inglesa oferecia em alguns álbuns e canções, tudo é meio branco, cinza e gelo.
Não espanta que este Paradise Valley, um EP 7”, tenha sido lançado no dia 21 de dezembro, o momento exato do solstício de inverno, o momento em que o dia está oficialmente mais curto e as noites ficam mais e mais elásticas. Sim, aqui é exatamente o contrário, o que nos obriga a um contrassenso climático, nos fazendo pensar numa ginástica mental que nos permita ver beleza gelada e subzero por aqui. Se conseguirmos isenção ou um bom ar condicionado, poderemos apreciar a beleza calma e reflexiva das duas faixas. A primeira, Headache, tem tudo para agradar em cheio aos fãs de Grouper. Tudo bonito, suspenso no ar frio, com tanta delicadeza que quase resvala nos parâmetros de Ambient Music em alguns momentos de luminosidade. A outra composição, I’m Clean Now, tem violão dedilhado e um clima mais acústico, conseguindo um efeito real de mescla ao ambiente, à sensação da paisagem invernal.
Com prensagem de 1 mil cópias e download digital, Paradise Valley é um carinho nos fãs. Como se a mão pequena e fria de Liz afagasse as frontes contemplativas de seus admiradores. Breve e belo como o orvalho prestes a derreter.
(Paradise Valley em uma música:Headache)