Resenhas

Sad13 – Slugger

Cantora e guitarrista faz álbum Lo-Fi e eletrônico sobre questões feministas

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Ano: 2016
Selo: Carpark Records
# Faixas: 11
Estilos: Lo-Fi, Pop Alternativo, Eletrônico
Duração: 35:32
Nota: 3.0
Produção: Sadie Dupuis

Slugger é o disco de estreia de Sad13, nome artístico utilizado pela cantora, guitarrista e compositora Sadie Dupuis, que integra as fileiras do quarteto americano Speedy Ortiz. Neste primeiro trabalho solo, Sadie quis sair do ambiente do Rock, no qual seu grupo se insere, e dar uma olhada para fora da caixinha em dois sentidos. Quis fazer um disco mais arejado, mais Pop e, ao mesmo tempo, oferecer a possibilidade de trabalhar com estética Lo-Fi para emoldurar um punhado de letras sobre conscientização da mulher e o próprio feminismo. Já é um projeto antigo, que vem tomando forma aos poucos, desde quando a moça cursava, ao mesmo tempo, as graduações de Matemática e Teoria Musical do prestigiado MIT, em Boston. Depois de mudou-se para a Filadélfia, Sadie encontrou seus amigos de banda e largou tudo para viver como musicista em tempo integral. Deu no que deu.

Não vá pensando que o Pop ao qual Dupuis se refere é o popão multinacional, das Rihanna e Britney da vida. Esteticamente a coisa vai mais para uma música feita com pouquíssimos recursos técnicos, destas que a gente grava no porão ou no quarto. A distinção se dá na medida em que Sadie se vale de elementos emancipadores da estética Hip Hop para dar forma e conteúdo ao seu trabalho, obtendo, guardadas as proporções, uma sonoridade noventistas que pode lembrar The Breeders em 1991 e Beck em 1994, mas com cara de demotape da inglesa Charli XCX. São influências distintas que encontram pontos de interseção a partir das propostas que Sadie coloca na mesa e oferece ao ouvinte. A coisa funciona em vários momentos, apesar da necessidade de algumas melodias mais marcantes.

Os temas que Sad13 aborda estão inseridos nesta lógica de afirmação feminina. Consentimento (ou não), autonomia emocional e sexual, bem como questões sobre as complexidades dentro de um relacionamento e quando este se torna nocivo para ambos. Tudo surge com autenticidade convincente a ponto de acreditarmos que a própria Sadie experimentou estas situações, algo que contribui para conferir uma aura de relato ao conjunto de canções. Por isso a ênfase maior do disco reside nestas temáticas do que na moldura musical propriamente dita. Ela surge como boa guitarrista, fazendo base e esboçando algumas estruturas que podem significar solos, no proverbial ofício de bater o escanteio e correr para a área e cabeçear. Mesmo com alguma monotonia musical querendo tomar conta, a sensação não chega a se concretizar ou ameaçar a fruição do álbum em nenhum momento.

Há bons momentos: a faixa de abertura, <2 é bonitinha e angulosa, com certa ginga para escapar do senso comum. Tem estrutura de faixa alternativa dos anos 1990, mas tem sintetizadores bonitinhos e bons vocais, escapando um pouco da mesmice. Just A Friend surge mais rítmica e suingada, também com mais presença de teclados que da guitarra, oferecendo outra possibilidade estética dentro do nicho que Sadie escolheu. Krampus (On Love) é mais um exemplo de diversidade dentro da mesma caixa, uma vez que, aqui, Sad 13 entra mais no campo da música Eletrônica, com moldura amadora/intencional totalmente inserida nos mandamentos Lo-Fi do almanaque. Hype, a melhor canção do disco, tem estrutura Pop mais padronizada, parecendo até algo que a veterana banda novaiorquina Blondie gravaria se tivesse surgido em 2010. Fechando os trabalhos, outra rendição à Eletrônica, dessa vez na boa Coming In Powers, que tem participação da rapper Sammus.

Slugger passa a impressão de missão cumprida. Provavelmente Sadie Dupuis gestou essas canções e este projeto por muito tempo, algo que transparece no frescor das faixas e no clima que o disco oferece. Não é a chegada do Messias, mas vai te divertir e despertar interesse pelas letras. Legalzinho.

(Slugger em uma música: Hype)

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BOM PARA QUEM OUVE: The Breeders, Charli XCX, Beck
ARTISTA: Sad13

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.