São duas as características que mais chamam atenção em Bandida. Uma delas é a projeção do Funk Carioca para muito além dos morros – algo quase redundante de ser afirmado em um ano “tranquilo” e “favorável” com Baile de Favela e afins -, com um peso na produção que sabe aproveitar os melhores truques para finalizar um produto “nível exportação”.
A segunda, nada menos relevante que a anterior, é a questão feminista presente nas músicas e na atitude de MC Carol. Ela canta os mesmos temas que seus colegas masculinos, porém com os objetos devidamente transportados à sua perspectiva – se uns falam da “xota ardendo”, ela fala da “pica dele”. Se existe algum incômodo em ouvir uma mulher falando disso, enquanto não haveria problema na voz de um homem, mande os parabéns a ela, pois sua tarefa foi cumprida com louvores.
Isso não significa, porém, que Bandida será o disco que conquistará o público avesso ao Funk Carioca, uma pista que a excelente Delação Premiada dava, e quem vier a ele por ela ou 100% Feminista (com Karol Conka, também lançada previamente), encontrará a abertura Não Foi Cabral e mais nenhuma outra faixa explicitamente crítica à sociedade, como os dois singles apresentaram.
Devidamente posicionadas na abertura, metade e fechamento do disco, o espaço entre as três músicas foram preenchidos pelos temas comuns dos Bailes, sexualmente explícitos e livres da moral convencional.
Ao final da audição, o peso do “pancadão” ressoa no ouvinte como o amparo agressivo que a voz de uma mulher negra da periferia merece para ter seu recado ouvido por um grande público sem deixar de lado o movimento que apóia. Vale a experiência, e vale apoiar também.
(Bandida em uma faixa: 100% Feminista)