Resenhas

EZTV – High In Place

Trio novaiorquino entrega disco cheio de suavidade e boas guitarras

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Ano: 2016
Selo: Captured Tracks
# Faixas: 10
Estilos: Rock Alternativo, Pop Alternativo, Folk Alternativo
Duração: 35:56
Nota: 4.0
Produção: EZTV

Estou ouvindo o segundo álbum do trio EZTV, High In Place e gostando bastante. Algo, porém, me incomoda a ponto de colocar algumas pulgas metafóricas na orelha: é muito, demais, extremamente parecido com o que Real Estate faz. São bandas do mesmo referencial geográfico; uma do Brooklyn, Nova York, outra de Ridgewood, Nova Jersey, lugares separados por distância curta, mas com diferenças fundamentais. Apesar disso, em ambos os casos, o som, o clima, a pegada guitarreira melancólica e o apreço pelo Folk tristonho, banhado de Indie Rock inglês oitentista, dão a tônica total e dominante. É música que serve de fundo para contemplação de ondas quebrando gentilmente numa praia deserta e cinzenta, sob um céu branco, de chuva que não cai ou que já caiu. É um sentimento que muita gente até gosta de vivenciar, a tal da auto-comiseração.

Preferências sentimentais de lado, vamos ao som. É tudo muito bonito, harmonioso e bem feito. A própria banda produz tudo, ressaltando essa proximidade com a contemplação e com uma ênfase nas guitarras e vozes. As canções ajudam bastante, sempre com um refrão aqui, uma vocalização ali, contribuindo para a fácil assimilação sem que se perca um centímetro de potencial por conta desta aproximação com o Pop mais clássico. Lembra muito o que Teenage Fanclub conseguiu ao longo de sua carreira, se valendo das mesmas influências e construindo uma marca pessoal, muito por conta da habilidade no manuseio das estruturas popescas. A duração das faixas não ultrapassa por muito os protolocares três minutos e meio, apenas chegando a 4:36min com States Of Confusion, por sinal, uma belezura melodiosa. Há sempre algum detalhe interessante para ser percebido nos arranjos, mostrando que o trio, liderado pelo guitarrista/vocalista, Ezra Tenenbaum, se preocupa com esse tipo de coisa. Nós gostamos.

Não por acaso, participam do álbum 2/5 de Real Estate, personificados nas presenças do guitarrista Martin Courtney e do tecladista Matt Kallman, bem como da gracinha Jenny Lewis, com melífluos vocais de apoio aqui e alhures. Em alguns momentos disco adentro, temos a impressão que ouvimos até mesmo um R.E.M. fase Out Of Time ensaiando, caso da faixa de abertura, High Flying Faith, que tem uns bandolins bem sacados e posicionados inteligentemente ao longo da canção. Ainda que as dez faixas passem a impressão de certa mesmice, há esforços interessantes para escapar disso. Hammock tem certa pegada mais forte no ritmo de bateria/baixo, mas ainda segue dominada pelos timbres e pedais de guitarra que Ezra coloca por toda parte, alcançando bom resultado. Temporary Gold também vai nessa onda, procurando harmonizar mais vocais de apoio e principais e pegar onda numa levada de violão/guitarra acústica que desemboca em um belo refrão.

Outras belezuras surgem com Still, que, sim, parece uma faixa perdida de Days, terceiro disco de Real Estate, sempre lembrando que este dado não desqualifica a canção do debate, pelo contrário, cai como um certificado de qualidade. A canção termina com um belo fade de baixo e bateria, abrindo passagem para a riqueza melódica de How Long It’s Gonna Be, com um trabalho vocal muito bonito, preparando o caminho para o encerramento com Goodbye Morning, que tem bom refrão, mas conta com um andamento mais truncado, mas que não chega a comprometer o resultado.

EZTV não é uma banda que pretenda estabelecer compromisso com a inventividade, pelo contrário. Os rapazes não se importam em exibir suas influências e inspirações, mas investem num terreno que soa sempre novo, no caso, das variações sobre o Folk, saindo-se bem e apostando na qualidade de suas composições. O trio é promissor, fez um belo segundo disco e aponta pro futuro, nos enchendo de boas impressões.

(High In Place em uma música: States Of Confusion)

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.