Resenhas

Cupin – Cupin

Disco de estreia da dupla traz interessantes misturas entre gêneros brasileiros e gringos

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Ano: 2016
Selo: Freak
# Faixas: 9
Estilos: Indie Rock, Psicodelia, MPB
Duração: 31:00
Nota: 3.5
Produção: Nico Paoliello

A genética já diz que a miscigenação é algo muito benéfico para a variabilidade. As influências e interações de genes bastante diferentes entre si compreendem uma vasta gama de novas possibilidades, e, nesta questãi, a música brasileira encontra vértices comuns com a biologia. Desde Os Mutantes, fica cada vez mais claro que o repertório de gêneros do país é extremamente camaleônico, adaptando-se de formas fascinantes tanto entre si como com estilos musicais gringos. Há quem diga que essa mistura pode resultar em discos pouco coesos e/ou ausentes de uma unidade que agrupe as faixas como um álbum, mas é justamente essa pluralidade que torna o trabalho muito mais instigante, apostando na incerteza como recurso chave para a apreciação do registro. É justamente aí que os “novatos” da banda Cupin se apoiam para criar mais uma comprovação desta tese da miscigenação musical.

O disco auto-intitulado é um mix de referências e ambientações. Produzido por Nico Paoliello, temos um quadro pintado a várias cores, texturas e figuras cada qual de um lugar mais distinto da música brasileira. Tem Bossa Nova, Indie, Psicodelia, Disco, Instrumental e Baião, tudo isso na mesma panela temperada com uma personalidade forte da dupla, formada por Pedro Luce e Paulo Suriani. A imprevisibilidade de saber para quais caminhos seremos guiados é um dos charmes do disco e por mais que estejamos cegos diante do percurso que a dupla pretende seguir, há uma confiança plena no trajeto escolhido por Cupin, justificado pelas belíssimas paisagens que contemplamos. Há uma intensa exploração de timbres e sonoridades para recriar o mais fielmente possível essas fusões sonoras, desde sintetizadores psicodélicos, passando pelos cortantes orgãos Hammond, percussões fortes e guitarras suingadas.

Cupin opta por nos introduzir o seu disco de estreia com Inara, uma faixa que já nos traz quebras de expectativas ao misturar sua batucada firme com um groove psicodélico envolvente. As coisas suavizam em Então, Cadê o Jeito, com uma aura Bossa-Nova que ainda mantém uma lisergia mais branda em suas ambientações. Mais um Fim permanece na bossa e dá até um ar satírico, lembrando aquelas músicas de elevador de hoteis luxuosos e tropicais dos anos 1960. Malandro volta para a percussão dançante com sintetizadores mirabolantes e até mesmo arrepiantes, tais quais as trilhas sonoras de séries de alienígenas da década de 70. Pulando para a década seguinte, o disco assume o comando da direção e envolve Disco Donato, cheia de leads hipnóticos e vocoders típicos do gênero. Rapor Opula é uma das composições mais instigantes pois, além de instrumental, ela constroi bem uma ambientação etérea, por meio de uma percussão que funciona quase como um mantra.

Assim, Cupin nos apresenta um disco de estreia bem produzido e que chama a atenção por suas referências opostas e que se harmonizam bem. É um trabalho bastante natural e nenhuma composição precisa ser forçada para fazer sentido: basta uma audição e está tudo feito. Um primeiro capítulo que abre uma série de possibilidades para novos e igualmente bons trabalhos. Uma viagem às cegas sem medo de bater.

(Cupin em uma faixa: Rapor Opula)

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ARTISTA: Cupin
MARCADORES: Indie Rock, MPB, Psicodelia

Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique