“Sou uma compositora, apesar que algumas vezes o desejo de cantar músicas de outros artistas é forte”, explica de forma objetiva Dom La Nena no texto que acompanha seu novo EP, Cantando, uma coletânea de quatro músicas que sucede o disco Soyo, lançado no último ano.
Cada uma das canções é uma amostra dos idiomas aprendidos por Dominique em sua vida de viagens. A primeira delas, Scenic World, da banda Beirut, é a única contemporânea da obra. Os arranjos são simples e minimalistas, como ela mesma define todo o EP, uma versão samba-gringo que expressa influências brasileiras que a artista já notava na faixa enquanto tentava matar as saudades do Brasil no exterior.
A segunda é Felicidade, do brasileiro Lupicínio Rodrigues, que tem seus traços melancólicos elevados pela voz sussurrada e o cello que a acompanha. A escolha de trazer a música em uma obra de canções tão seletas é muito feliz e tem seus justificativas na infância e adolescência da cantora, período no qual conheceu a famosa composição.
Gracias a la Vida, a terceira, da chilena Violeta Parra, marcou a passagem de Dominique por Buenos Aires e tem uma intenção especial em uma voz tão jovem mas que já tem tanto a agradecer. Voz, violão, violino e cello combinam-se na belíssima versão, que ficou com cara de trilha sonora de filmes do diretor espanhol Pedro Almodóvar.
Quarta e última, Les Vieux, do francês Jacques Brel, é uma das primeiras canções da língua francesa aprendidas pela artista e que nos lembra como sua voz macia fica bem no idioma. A percussão que dá ritmo de locomotiva vagarosa é um bonita adição e que ajuda a dar cores diferenciadas em um disco de paleta sonora concisa.
Com escolhas bastante pessoais, o disco é talvez uma última olhada para trás de Dom La Nena antes de ir adiante em sua carreira, dando sequência ao ótimo lançamento do ano passado. Um farol, para lembrar ela mesma de onde veio, por onde passou e onde está – e que ela resolveu (felizmente) compartilhar conosco.
(Cantando em uma música: Les Vieux)
