Vitamina forte que vem direto do liquidificador cotidiano, Brutown chega ao mundo como obra necessária, ganhando sua relevância não só artisticamente, mas também por textos políticos que são a pedra fundamental das doze faixas que compõem o álbum. Dos últimos acontecimentos políticos à outros eventos amargos, o pé que chuta a porta aqui tem o selo “descontentamento” impresso na borracha, e a marca é estampada em tudo o que o disco chega perto.
A cidade seca e destruída da capa não é um cenário distópico de um futuro distante, mas a representação real não só do Brasil como do mundo inteiro. Para pintar este quadro com tintas pollockianas, o duo The Baggios, que era formado por Julio Andrade (voz e guitarra) e Gabriel Carvalho (bateria), acrescentou o músico Rafael Ramos (órgãos e sintetizadores) à equação, ampliando a sonoridade familiar dos meninos sergipanos e a levando para novos caminhos. Preocupados com suas raízes enquanto se desbravam por gêneros sagrados fora, aqui a sacada do agora trio foi trazer para perto músicos convidados que admiram e os influenciam. A voz de Jorge Dü Peixe (Nação Zumbi) está em Saruê, a de Emmily Barreto (Far From Alaska) em Estigma e o violino de Felipe Ventura (Baleia) em Soledad e Miquim, por exemplo. A sensação é exatamente como se os elementos que gostamos do excelente Sina, de 2013, estivessem ali com combustível novo, alimentando o lançamento o suficiente para soar como algo evoluído.
Como as letras e a sonoridade que eles se apropriam de forma original merecem uma depuração maior (e também mais chance de apreço por parte do público), é compreensível que Brutown seja um excelente passo para frente, mas fica a vontade de ter visto o duo desafiar mais a física e voar. Permanece expresso então o desejo para um futuro quarto álbum de estúdio, no qual seria massa ver combustível de foguete alimentando as fortes referências Blues Rock. A confiança em The Baggios é o suficiente para imaginar algo assim.
(Brutown em uma música: Sangue e Lama)