Curado é uma imersão no que há de mais contemporâneo em São Paulo e no Brasil em termos de um cenário cultural atento ao seu contexto histórico – contemplando a herança do passado e as diversas influências de hoje -, tudo pelas mãos de quem sempre provou entender bem disso: Hurtmold e Paulo Santos (ex-Uakti).
Todo instrumental, o disco constrói faixas que apresentam grande identidade dentro da obra, o que oferece uma dinâmica interessante até mesmo para quem tem dificuldade em ouvir por muito tempo a música sem voz e letra. É que toda música traz uma variedade interessante de elementos para o ouvinte admirar, de novos timbres a melodias curiosas, tudo em um som sempre encorpado e volumoso.
Por conta disso, as músicas mostram-se imponentes, quase intimidadoras, em certos momentos, o que pode causar um certo distanciamento de alguns ouvidos – o curioso que nem sempre escuta esse tipo de música tem chances de ver o álbum com mais espanto do que acesso às suas melhores qualidades -, enquanto outros, os que buscam esse tipo de trabalho, estarão prontos para uma grande admiração e a tal imersão.
Ao contrário de outros tantos trabalhos instrumentais, Curado parece não funcionar tanto como um facilitador de projeções de imagens na mente do ouvinte, já que suas faixas parecem prender-nos mais ainda ao chão do que voar no interior – reflexo da qualidade dos músicos, que merecem todo o destaque, assim como do fator impressionante que a obra atinge ao cumprir seu papel de catalizadora do que o Brasil tem de melhor hoje.
(Curado em uma música: Olha o Queijo)
