Resenhas

Die Antwoord – Mount Ninji and da Nice Time Kid

Dupla ainda exibe a essência do passado, mas parece ter receio de admitir que é Pop

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Ano: 2016
Selo: Zef Recordz
# Faixas: 16
Estilos: Pop Alternativo, Hip-Hop, EDM
Duração: 54:01
Nota: 3.0
Produção: God (DJ Hi-Tek)

No mundo Pop, no qual os conceitos de artista e de celebridade fundem-se sem ressalvas, os limites entre o transgressor e o apelativo também se tornaram difusos. No cenário da música mainstream, no qual nomes como Lady Gaga, Miley Cyrus e Kanye West, não por acaso, aparecem como alguns dos mais proeminentes, a genialidade de um criador parece ser um critério que na verdade diz respeito muito mais à capacidade de causar polêmica.

Esta realidade controversa, em que artistas defendem sua liberdade de expressão, seu direito de autenticidade, enquanto na verdade encenam uma personagem exagerada de si mesmos, parece ser a qual se encontra Die Antwoord em seu novo álbum Mount Ninji and Da Nice Time Kid. A dupla sul africana formada por Ninja e Yolandi Visser nasceu em um contexto que unia a violência do Rap, o ritmo acelerado da Rave, as referências trash do Zef e a estética sombria forjada pelo artista visual Roger Ballen. Hoje em dia, os membros de Die Antwoord parecem tentar encontrar seu lugar após tornarem-se aquilo que até então criticavam com ferocidade: personalidades Pop.

Este trabalho é uma miscelânia de imagens e sons que tentam dar conta de tudo aquilo que forma Die Antwoord. Gucci Coochie, com a participação de Dita Von Teese, fala da glamourização do sexo. Daddy, Banana Brain e I Don´t Care, faixas que apostam no EDM, falam da relação entre Ninja e Yolandi. Shit Just Got Real e Street Light falam do passado violento na África do Sul. Em um lado mais humorístico, Wings On My Penis traz Lil Tommy Terror, um rapper de seis anos de idade falando sobre… ter asas em seu pênis. Rats Rule, por sua vez, conta com a participação farsesca de Jack Black.

Mount Ninji and Da Nice Time Kid traz muito da violência, da energia e do terror fascinante exibido em outros tempos por Die Antwoord, mas vaga por estilos musicais muito diversos, exibe vinhetas e diálogos exagerados e, por isso mesmo, soa encenado. Em alguns momentos, uma virada inesperada na trajetória do grupo dá sinais de vir à tona – a necessidade de demonstrar fragilidade. No entanto, tal desejo não se concretiza. Talvez haja o receio de assumir que, na verdade, Die Antwoord já abraçou o Pop. Ou, visto de outro ângulo, talvez haja o receio de abdicar daquilo que a dupla já não é mais.

(Mount Ninji and Da Nice Time Kid em uma música: We Have Candy)

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BOM PARA QUEM OUVE: Peaches, M.I.A, Kanye West
ARTISTA: Die Antwoord

Autor:

é músico e escreve sobre arte