Resenhas

Keaton Henson – Kindly Now

Quarto disco do cantor mostra maturidade e a sensibilidade cortante já conhecida

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Ano: 2016
Selo: PIAS America
# Faixas: 12
Estilos: Singer-songwriter, Chamber Folk, Folk
Duração: 47:40
Nota: 4.0
Produção: Dan Grech-Marguerat e Keaton Henson

Ouvir Keaton Henson não é uma experiência prazerosa. A partir do momento em que somos expostos às sinceras e duras composições do músico inglês, tomamos consciência da força que suas frágeis palavras possuem, atingindo nossos corações como facas. Começando sua carreira com tímidos dedilhados em violões, o compositor logo percebeu que, para passar plenamente a emoção desejada, seria necessário muito mais e, assim, foi logo aperfeiçoando sua obra até chegar aos arranjos de instrumentos clássicos em seu último trabalho, Romantic Works. Dessa forma, Keaton chega a seu quarto disco de estúdio com uma bagagem musical e pessoal bastante extensa, e sintetizar com a mesma intensidade seus sentimentos significa pensar sobre uma quantidade de assuntos cada vez maior, fato que para ele é cada vez mais pesado. Talvez seja por isso que, nos primeiros segundos deste lançamento, ouvimos um suspiro cansado, como se ele estivesse preparando para enfrentar tudo mais uma vez.

Kindly Now é um encontro dos diferentes Keaton mostrados ao longo de sua carreira. Isso não significa que é um grande compilado das diferentes sonoridades que ele explorou, mas uma junção dessas em um disco maduro que explora uma nova forma de lidar com a dor. As delicadas melodias se fundem às vezes a instrumentais mais desenvolvidos do que apenas um violão/guitarra e há momentos que belíssimos arranjos de sopros tecem uma atmosfera densa servindo de base para que Keaton se desespere nesse limbo sentimental. É um disco traiçoeiro, que nos seduz com composições belíssimas e, quando nos damos conta, estamos dentro de um universo introspectivo e doloroso, seja pela melancolia retratada ou por letras simples cuja temática é bastante identificável e intensa – a ponto de talvez não sabermos a profundidade das dores pelas quais já passamos.

O lamento começa com Alright, uma composição que nos mostra o drama da separação recente, na qual o amor não foi totalmente erradicado. The Pugilist é uma súplica para que ele não seja esquecido, mas logo depois pede em Witnesses para que tudo que lembre essa pessoa seja queimado. Essas contradições são uma das formas de expressão que Keaton mais domina e é realmente devastador o efeito de sua poesia. A dor é tão psicológica quanto física e Polyhymnia nos mostra isso quando o eu-lírico pede para ser torturado, apenas para chegar a uma conclusão difícil de se aceitar: ele precisa de dor para sua arte. E, por fim, depois dessa punhalada certeira, justamente quando você acha que encontraria algum pingo de esperança, Keaton termina sua obra com mais dúvidas do que certezas na dolorosa How Could I Have Known.

O quarto disco de Keaton Henson é um fardo pesado para ser carregado e escutado. A maturidade de saber mesclar seu passado de uma forma inventiva traz novos horizontes para o compositor, mas sua sinceridade e autorreflexão cortante nos prova que seu coração é um grande poço que poderíamos escavar por anos e, ainda sim, encontrar dores e lamentos. Um trabalho emocionante e tortuoso, no qual a sensibilidade do cantor nos leva cada vez mais dentro de si, praticamente nos aprisionando e sufocando. Uma morte maravilhosa.

(Kindly Now em uma faixa: The Pugilist)

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Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique