A existência de clipping pode ser atribuída em grande parte ao sucesso do Hip Hop misturado ao Noise e ao caos de Death Grips. Ambos compartilham o gosto por batidas pouco usuais envelopadas com uma atitude Punk – as comparações podem acabar aí, dado que, enquanto o primeiro grupo sempre quis trazer um pouco menos de experimentalismo e mais acessibilidade, o segundo sempre procura irritar e incomodar o ouvinte, algo feito com esplendor e que justifica Death Grips como um condutor desse gênero contemporâneo.
CLPPNG, seu primeiro disco, trouxe todo esse ar e pegou o gargalo deixado por MC Ride e companhia, no entanto seus últimos exemplos deixam a desejar. A começar pela narrativa do disco, que tenta trazer aspectos minimalistas semelhantes aos ótimos Shabazz Palaces até chegar às vozes em coro de Young Fathers; a intersecção, combinada com os vestígios de inspirações anteriores do grupos, só deixa tudo confuso. Vozes rápidas em The Breach trazem claustrofobia, enquanto Wake Up é tão genérica que chega a incomodar – ambos momentos são acessíveis em meio ao Noise proposto, mas, mesmo assim, não empolgam.
No entanto, quando surge Long Way Away as coisas começam a desandar – qual é o sentido de uma faixa que traz à tona o formato de um musical da Disney ao Hip Hop Noise? Essa é justamente a tangência que se tenta ter com Young Fathers, mas que aqui não tem identidade alguma. O fato de a faixa ser dividida em Intro e Instrumental chegando até sua versão acappella só mostra como ela é desnecessária. O momento “musical” volta em Story 5 e causa ainda mais estranhamento.
Nem tudo é perdido em Splendor & Misery. Air ‘Em Out traz um Trap interessante que consegue movimentar um pouco o ouvinte, enquanto Baby Don’t Sleep é coeso no meio de toda confusão. No entanto, o resultado final é extremamente decepcionante; o disco não consegue chegar a nenhum lugar e se mostra um apanhado de referências que, nas mãos e vozes de clipping, se tornam redundantes e sem expressividade alguma. Uma pena, pois existe claramente aqui a vontade de mudar a cara do grupo e fugir de comparações, algo que, infelizmente, é inevitável dada a falta de inspiração do trio.
(Splendor & Misery em uma música: Air ‘Em Out)