Resenhas

Factory Floor – 25 25

Grupo inglês abusa da paciência do ouvinte com eletrônica estéril

Loading

Ano: 2016
Selo: DFA
# Faixas: 8
Estilos: Eletrônico Experimental, Dance Music
Duração: 55:31
Nota: 1.5
Produção: Factory Floor

Factory Floor, o popular “chão de fábrica”, é um grupo de Londres devidamente imbuído de um objetivo: fazer música pra dançar como se estivesse numa linha de desmontagem. Explico: os caras fazem música quase minimalista, desprovida de melodia, reduzida ao mínimo, no caso, programações rítmicas, fragmento de vozes, efeitos malandros, tudo com aquela pinta de grande arte, mas que você ouve, tenta entender alguma segunda intenção, algum lapso de genialidade, alguma chegada do Messias, mas, mesmo depois de um bom tempo tentando achar valor na empreitada, você se dá conta de que é tudo muito… chato. Este seu segundo disco, 25 25, é ainda mais “chão de fábrica” que o anterior. Pra quem não está familiarizado com a expressão, ela significa “simplicidade”, o “básico”, o “mínimo”. Faz sentido.

Pra quem gosta desse tipo de sonoridade, no entanto, o disco é um prato cheio. O problema é você esperar um mínimo, um teco, um tico de melodia, algo que, para estes par de ouvidos aqui, ainda é fundamental, nem que seja para desconstruir e reinventar. O que Factory Floor oferece é o produto disso, sem o processo à mostra para o ouvinte. Talvez essa visão funcionasse melhor em outra vertente da música eletrônica, como a IDM ou mesmo a Ambient, estilos que têm outro tempo de circunavegação. Com a música para dançar pura e simples, os ouvidos e o corpo esperam determinados climas e e estímulos que estas canções simplesmente não oferecem. Claro, numa pista de dança, devidamente entorpecido, talvez o efeito seja outro. Sóbrio, com fones de ouvido, tudo soa, como já disse, chato. E pretensioso também.

São oito composições longas, monótonas, que mais parecem deveres de casa de um curso de música eletrônica por correspondência. A mais curta, a maçante Relay, tem cinco minutos e meio, enquanto Wave quase chega nos 9 minutos. Nesta, em meio a uma programação que pouco se altera, efeitos percussivos se misturam a um baticum estéril e pouco inspirado. A abertura do disco, com a Meet Me At The End, procura incutir um clima de expectativa no ouvinte, que fica aguardando reviravoltas, plot twists, surpresas, crocâncias e nada vem. Slow Listen, ao contrário do que informa o título, nada tem de lenta, investindo mais na percussão que evoca alguma sobra de beat que New Order poderia ter usado em sua bela The Perfect Kiss em 1985. Mas é só impressão.

Nada é mais irritante do que a sétima faixa, Ya, na qual vozes falam “ya” várias vezes ao longo dos intermináveis 7 minutos da canção. Ela abre caminho para a última composição, Upper Left, que traz palmas sintetizas, vários blips e tóins sem graça num percurso tedioso. Quando você vê que chegou ao fim, não sabe se é melhor agradecer pelo renovado valor que dá ao silêncio ou se lamenta o tempo perdido à espera de algo interessante ou criativo, que, simplesmente não chegou. Imagino que possa haver gente interessada num álbum assim, mas nem pelo experimentalismo, nem pela repetição de fórmulas espertas, esse 25 25 se justifica. Evite.

(25 25 em uma música: Ya)

Loading

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.