Resenhas

Band of Horses – Why Are You Ok

Novo álbum traz algumas das mais belas canções da banda americana

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Ano: 2016
Selo: Interscope/EMI
# Faixas: 12
Estilos: Rock Alternativo, Folk Alternativo, Country Rock
Duração: 49:16
Nota: 4.0
Produção: Jason Lytle

Ao ouvir as primeiras canções que Band Of Horses soltou para promover seu quinto e mais novo trabalho, Why Are You OK, pensei: essas bandas dos anos 2000 têm um quê de Grandaddy. A esquisitice lapidada, os timbres de Pink Floyd de garagem, a tara não declarada por certos aspectos do Rock Progressivo, enfim, várias características da finada formação americana, liderada por Jason Lytle, que ganhou notoriedade com o disco Software Slump, lá no ano 2000. Não foi com espanto, portanto, que recebi a notícia de que a produção deste novo trabalho de Band Of Horses esteja nas mãos de Lytle. É um movimento interessante para os rapazes, uma vez que entregaram a chefia do estúdio do álbum anterior a um veterano sessentista como Glyns Johns, como se buscassem alguma referência de Classic Rock, algo que, sim, eles têm, mas que não é a principal cor de sua paleta de tintas.

Sendo assim, com Lytle no comando, Ben Bridwell e seus cupinchas oferecem este novo disco ao público. É, sobretudo, um álbum de excelentes composições e bom gosto nos arranjos. Quase todas as faixas têm refrãos assobiáveis, melodias belas e um revestimento levemente espiritual na sonoridade, dando a impressão de que estamos por vezes numa igreja, outras num campo aberto, sob o céu estrelado, e outras sensações desta natureza. A tal esquisitice, que Lytle imprimia em sua antiga banda, não aparece por aqui, talvez num sinal de respeito/amadurecimento dele ou inadequação ao que Band Of Horses se dispõe a fazer. O fato é que ela não faz falta em nenhum momento. Talvez o maior mérito é que as canções do álbum conseguem soar como donas desta identidade musical, “parecendo Band Of Horses”, demonstrando personalidade e assinatura sonora. Claro, há outras influências presentes, sobretudo Mercury Rev, Pink Floyd setentista e da persona mais Folk de Neil Young.

A abertura com Dull Times/The Moon soa como uma passagem para algum lugar noturno e mítico. A levada da canção é totalmente “floydiana”, com violões e teclados criando um clima de paz e movimentos lentos, com a marca registrada do grupo inglês. A cerca de dois minutos do fim, sai esta paisagem e mergulhamos num Country Rock clássico e conduzido por guitarras atemporais, bem mixadas nas fuças do ouvinte. Dá pra sorrir. A partir daí, temos a constatação da boa mão de Ben Bridwell ao compor estas belezuras. Solemn Oath é insinuante, quase divertida, pontuada a princípio por guitarras e banjos, para cair na estrada mais encorpada, novamente soando como algum standard Country Rock do início dos anos 1970. Em seguida, a beleza extrema de Hag, que poderia estar no belo álbum Deserter Songs, de Mercury Rev, lançado em 1998. Os vocais de Bridwell estão no limite da emulação neilyoungiana clássica, os teclados fazem um fraseado belíssimo no refrão e a bateria é pesadona, mamútica, como deve ser nestes casos.

Para não soar tudo contemplativo e pastoril, Casual Party é típico roquinho linear à la Grandaddy, com felicidade rítmica por toda parte e caindo bem perto da metade do disco. In A Drawer reverte possibilidades na forma de uma canção Pop radiofônica e sensível, com bateria de aro, cordas e teclados fazendo o acompanhamento à distância. Hold On Gimme A Sec é uma vinhetinha sem muito sentido, que abre o caminho para a acústica e bela Lying Under Oak, uma cruza de Neil Young com Ryan Adams fase Love Is Hell. Throw My Mess é uma canção Country mais clássica, com ritmo marcado no bumbo, não chega a emocionar. Whatever, Wherever, no entanto, surge climática e dotada de melodia belíssima, arranjo singelo e tudo colocado com a intenção de fazer o ouvinte sorrir. Country Teen tem levada fofa e começa com pinta de demo tape, ingressando na sonoridade mixada decentemente só em sua metade. Quando o instrumental cheio entra, vemos a magnitude do trabalho de Jason Lytle, capaz de preencher espaços e encontrar a medida exata nas influências da banda. Barrel House é sombria, lenta e dona de um jeitão Pink Floyd em seu arranjo e estrutura, enquanto Even Still chega para fechar o álbum, trazendo mais lentidão e takes em preto, branco e cinza.

Podemos dizer que Why Are You OK tem a malandragem suficiente para cativar o público da banda e, ao mesmo tempo, trazer novos fãs. A música contida aqui é eloquente, bela e bem feita e algumas canções estão entre as melhores que o grupo já gravou. Recomendadíssimo.

(Why Are You OK em uma faixa: Hag)

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.