Nessa última década, a Austrália firmou-se como lar da Psicodelia de nossos dias. Há, porém, uma raiz sua bastante brasileira, da tradição de Os Mutantes até o reconhecimento recente de Boogarins no além-mar, uma familiaridade que esse estilo parece encontrar organicamente no país, talvez pelas cores naturais de nossos ritmos, talvez pela desinibição de sobrepor timbres e efeitos, principalmente na guitarra, que por aqui habita.
Camaleão Borboleta tem a ver com isso. Ao longo de suas dez faixas, a banda mineira Graveola deixa seu “lixo polifônico” nas entrelinhas para criar um disco dinâmico e destemido, uma reunião de influências e afluências no protagonismo no timbre da guitarra elétrica e nas vozes que argumenta em favor da “metamorfose ambulante” tão característica da música popular do Brasil – como o título da obra denuncia.
Essa mutação vem em ritmos e escolhas de timbres, que evocam desde Novos Baianos até o axé “de raiz” dos anos 80 dentro do nosso imaginário do que é ou deveria ter sido “MPB” nos últimos 40 anos, com suas harmonias tão próprias e seu natural jeitinho de fazer qualquer cotidiano virar uma crônica poética, seja com um certo humor (Tempero Segredo) ou cheia de romantismo (Carta Convite).
Seu maior mérito acaba sendo – mesmo e apesar das excursões da banda por outros países – criar uma obra que dialoga com os conceitos e preconceitos de seus conterrâneos, mais do que um disco “pra gringo ver”. Aqui em sua casa, Camaleão Borboleta não é cool nem tenta ser, é uma grande obra que nos relembra a fluência que Graveola tem em criar belas canções em par com a safra do melhor que a terra dá – no caso, a tal da Psicodelia.
(Camaleão Borboleta em uma faixa: Tempero Segredo)