Se o primeiro EP de Rico Dalassam foi uma flecha certeira disparada contra todo o tipo de preconceito, o lançamento de seu primeiro disco revela ser uma porrada explosiva que não deixa vestígio de seus inimigos, ao impor uma voz forte e completamente arrebatadora que não deixa dúvidas: estamos diante de um líder. Orgunga reúne e sintetiza a mensagem do rapper paulista ao seu público: o orgulho negro e gay, a partir de referências muito firmes no Hip Hop e Trap atual, porém com influências da música africana e oriental, dando um toque extremamente universal à sua obra. Mas, por mais multicultural que este disco pareça ser, Dalassam não está a passeio pelo Rap e deixa claro sua preocupação em manter seu discurso inteligível e contemporâneo, caso contrário, “vira passado igual Rouge, se nós não rugir”.
Com rimas ácidas e corrosivas, Dalassam não poupa os agressores e sua mensagem é entregue da forma mas bombástica possível. Mesmo que faixas como Relógios e Vambora possam nos fazer pensar o contrário ao mostrar, respectivamente, um flerte com o Pop Rock e indícios de referências sambísticas, a potência de suas letras nos coloca de novo na linha do trem, que vem efusivo e sem piedade em nossa direção. A excelente faixa Esse Close Eu Dei, mostra a facilidade com a qual Dalassam se auto-empodera, começando a música pedindo para o ouvinte “sentir este calafrio, bee”; Milimili narra uma história de luta e garra, se comparando ao petróleo que “tava la no fundo há milimili” e Dalassam desconstroi imagens que colocam principes encantados como esteriótipos de beleza ao repetir exaustivamente “Eu sou Dalassam”. E isto não nos faz restar dúvida de seu poder.
O rapper não teve vergonha de mostrar seu talento, e entregou um registro que supera os limites da música de entretenimento, trazendo consigo uma mensagem de luta, empoderamento e orgulho, de uma forma que motivadora e, ao mesmo tempo, violentíssima. Novos registros e canções podem mostrar novas perspectivas, mas Orgunga ja é história consolidada e cravada. Um capítulo bem escrito na história da representatividade negra e gay, um soco delicioso e necessário de se tomar.
*(Orgunga em uma faixa: Esse Close Eu Dei)