Resenhas

Death Grips – Bottomless Pit

Um dos discos mais acessíveis do grupo ainda consegue ser caótico, inteligente e provocativo

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Ano: 2016
Selo: Harvest Records
# Faixas: 13
Estilos: Hip Hop, Rap, Noise Rock
Duração: 39:14
Nota: 4.0

Death Grips é um dos poucos refúgios atuais para quem quer ter a sensação de ouvir algo realmente diferente dentro do Pop. O lugar deles na música hoje, segue a linha do que representava uma banda Punk durante seu surgimento. O niilismo, o nonsense dadaísta, o caos, a negação dos formatos impostos pela indústria e a crítica constante a tudo que se enquadra nas regras do sistema. Se não conhece a banda, The Money Store, de 2012, pode ser um bom lugar para começar e em seguida, Bottomless Pit funcionará como complemento perfeito.

Após alguns trabalhos mais bizarros e difíceis de compreender, um anunciado término da banda, um último disco, a banda decide retomar suas atividades. Bottomless Pit soa como se Death Grips tivesse entendido que para que suas críticas ao sistema funcionassem e sua anarquia chegasse até quem realmente deveria ser afetado, não era possível renegar totalmente este ambiente, era preciso estar mais próximo do inimigo.

O disco traz alguns dos riffs mais acessíveis e belos já produzidos pelo grupo, como em Hot Head e refrões pegajosos como em Giving Bad People Good Ideas e Trash. Com guitarras pesadas, sintetizadores e elementos eletrônicos agressivos, Death Grips parece brincar com o limite do que, para um ouvinte de música Pop, está entre o audível e o insuportável.

As primeiras audições de Bottomless Pit incomodarão os não iniciados, mas o disco se assemelha a The Money Store justamente por tornar-se mais acessível depois de certa insistência. É como se a sujeira, o barulho e os incômodos fossem sendo ignorados pelo nosso cérebro depois da terceira, quarta audição e a qualidade e inteligência das melodias começassem a aparecer mais claramente.

Liricamente, Death Grips continua a provocar reflexões interessantes e bem inseridas nas questões desta geração. O problema com críticas à cultura popular contemporânea é quando estas vem de pessoas que não estão inseridas nela, soando artificial. Aqui, repúdio à cultura do lixo descartável que consumimos na Internet todos os dias e principalmente, à própria indústria musical, cutucam a ferida de forma agressiva.

A já citada música de abertura, Giving Bad People Good Ideas, uma das únicas faixas com vocal convidado feminino em sua discografia (de Clementine Creevy), parece uma crítica à própria influência do grupo. Há alguns anos, era muito clara a contribuição de Death Grips dentro do Hip Hop, sinalizando fortemente o que poderia ser um dos caminhos futuros para o estilo. Características que foram incorporadas, de uma forma ou de outra, por nomes como Tyler, The Creator, Kanye West e muitos outros. Resta à nossa imaginação saber quem especificamente são as pessoas ruins para quem eles deram tantas boas ideias.

Bottomless Pit é um disco que ao mesmo tempo em que parece sinalizar uma tentativa do grupo de se estabilizar dentro de uma identidade específica, pode significar exatamente o oposto. A velha ideia de questionar o sistema, a cultura popular, sempre lidou com este paradoxo, de criticar de forma inteligente, tornar-se popular e obrigar a banda a questionar sua própria criação, entrando num loop infinito de auto-crítica e confusão criativa. Pelo menos, é uma boa sinalização de que o grupo continua ativo, crítico e compondo ótima música.

(Bottomless Pit em uma música: Trash)

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BOM PARA QUEM OUVE: Rage Against The Machine
ARTISTA: Death Grips
MARCADORES: Hip Hop, Noise Rock, Ouça, Rap

Autor:

Nerd de música e fundador do Monkeybuzz.