Resenhas

Oliver Wilde – A Long Hold Star An Infinite Abduction EP

Músico inglês mantém seu nível estético e criativo em produção épica e roqueira

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Ano: 2016
Selo: Amplify Music
# Faixas: 8
Estilos: Rock Alternativo, Indie Rock
Duração: 39:00
Nota: 4.0
Produção: Oliver Wilde

Oliver Wilde é a síntese do “bedroom producer”, termo referente aos prodígios produtores que conseguem compor, gravar e lapidar suas obras em seus próprios quartos. O músico inglês é um símbolo nesse sentido não só pela sua capacidade estética em transformar temas Lo-Fi em pura psicodelia, mas também por criar mundos paralelos dentro de suas obras. Entender seus dois únicos discos serve para colocá-lo em patamares elevados de músicos conhecidos por processos criativos distintos e centrados em suas próprias viagens, como Sufjan Stevens e Daniel Johnson, por exemplo.

A Brief Introduction To Unnatural Light Years e Red Tide Opal In The Loose End Womb, seus dois únicos e elogiadíssimos álbuns, podem ser considerados duas raras unanimidades na redação do Monkeybuzz por um simples motivo: sua ambientação e criatividade estão acima de limites impostos e consegue-se perceber como o músico vem evoluindo aos poucos, saindo lentamente de um status de cult rumo ao estrelato alternativo. Chamar A Long Hold Star An Infinite Abduction de EP é uma mera nomenclatura que obedecemos devido a escolha de Wilde, pois sua densidade escapa de um curto relato, sua forma é orquestrada como jamais havia sido e sua evolução é espantosa.

Choca por capturar elementos idiossincráticos do músico, como sua voz Lo-Fi e o gosto pela psicodelia folclórica, e distorcê-los elasticamente. Podemos considerar A Long Hold a sua obra mais expansiva e épica, semelhante à sensação de se ouvir The Age of Adz, de Sufjan Stevens, sem a megalomania de uma dezena de faixas. O EP prefere ser conciso e trazer novos temas diversos à sua música – Blit Scratch é uma das faixas mais dançantes de sua carreira e traz novos horizontes à sua costumeira mistura eletrônica, enquanto a abertura Echolalia é contemporânea e nos lembra bastante o novo disco de Radiohead, e Bifida é o tipo de excentricidade que Wilde sabe dominar como poucos.

A sensação de estarmos diante de uma produção mais grandiosa e expansiva se deve à partida das produções caseiras e aos processos de composição e gravação dessa obra em diversos estúdios externos. A intenção do músico é óbvia: sair do lugar onde se tem total controle para justamente não se sentir preso a nada. Tal processo é ainda mais relevante quando entendemos a história do EP: Oliver sofreu de uma grave e incerta doença, sarcoidose no coração, e sua vida parece ser paralisada nesse período. Com uma taxa de mortalidade de cerca de 50% após cinco anos de seu descobrimento, não sabemos qual realmente é o destino de Oliver, mas já vimos o resultado direto em sua música (e até no nome do disco). A doença talvez explique também a sonoridade mais imediata e roqueira encontrada aqui, muito mais Rock que seu constumeiro Folk.

A longa espera em uma infinita abdução pode ser caracterizada como o período em que Wilde saiu de seu processo criativo e permaneceu quase encarcerado em uma cama de hospital e a ansiedade tomou conta dele – por isso a obra contém momentos épicos e explosivos, como Look After Your Machine, uma de suas melhores composições, outros mais Gospel e melancólicos, como Sad Sack, até encerrar na maravilhosa It Was Nice to Met You. Quase que uma faixa de despedida, nos coloca esperanças que o passado febril tenha acabado e agora Oliver possa brilhar como ocorre em A Long Hold Star An Infinite Abduction; obra que segue o nível de seus trabalhos anteriores e que expande-se unilateralmente para chegar a ouvidos mais distantes.

(A Long Hold Star An Infinite Abduction em uma faixa: Look After Your Machine)

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Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.