Resenhas

Guided By Voices – Please Be Honest

Robert Pollard solta mais um álbum de sua querida banda

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Ano: 2016
Selo: Guided By Voices
# Faixas: 15
Estilos: Lo-Fi, Rock Alternativo, Pop Alternativo
Duração: 33:14
Nota: 3.0
Produção: Robert Pollard

Entre fevereiro de 2014 e abril de 2016, Robert Pollard, mente criativa por trás de Guided By Voices, lançou nada menos que cinco álbuns. Dois assinados por ele mesmo, dois à frente do projeto paralelo Ricked Wicky e um como Guided By Voices, de longe sua assinatura com caneta mais forte no mundo da música popular mundial. Talvez ele seja o mais prolífico compositor em atividade, não conseguindo ficar mais de alguns meses sem compor, gravar e lançar álbuns. E qual a grande diferença entre as personas musicais de Pollard? Nenhuma, a esta altura. Se ele liderou uma banda com relativa visibilidade no cenário alternativo americano ao longo dos anos 1990, agora, mais de duas décadas depois do ápice criativo de GBV, Pollard não tem qualquer vergonha de transmitir a ideia de que ele é a banda e a banda é ele.

É justo que seja assim. Pollard já demitiu todos os integrantes da formação original da banda lá em 1997, mantendo músicos convidados e adjacentes como banda de acompanhamento dele no palco, mas até os mais nostálgicos admiradores da banda concordam que Robert é o grande responsável por esta vertente Lo-Fi amalucada, ainda que com relevância literária em alguns momentos. O novo álbum com a grife Guided By Voices, Please Be Honest investe firmemente nisso, optando por oferecer 15 canções pequenas, ultrapassando a barreira de três minutos apenas em duas delas ou não atingindo 40 segundos em uma, mostrando que a interpretação deste novo disco pode ser feita como se ele estivesse, quem sabe, postando num blog ou publicando fotos e tweets. Não são músicas feitas para durar ou para grudar na mente dos ouvintes, talvez um movimento intencional ou, mais provável, um reflexo do próprio ritmo frenético que Pollard impõe. Fica complicado atribuir valor em meio a tantas e tantas canções, lançadas sucessivamente, não permitindo mesmo que o ouvinte tenha tempo de entendê-las totalmente.

Tal fato não significa, no entanto, condenar o álbum, mas, certamente, atesta alguma dificuldade em perceber algo além das canções diminutas, com instrumental seguro de baixo, bateria, teclado e guitarras e da voz – ainda em forma – de Pollard. Em alguns momentos, como nas boas The Quickens Arrive e I Think A Telescope, chega a dar vontade de voltar alguns anos no passado e madrugar em frente à MTV para dar de cara com clipes alternativíssimos da banda e esperar o lançamento de algum álbum chegar na importadora. A última canção, Eye Shop Heaven, tem certa aura sessentista psicodélica, confirmando que a qualidade de composições de Robert não vai mal. Essa vontade passa logo, infelizmente.

O temor que fica é que a obra de Robert Pollard, seja com qual identidade ele assine, se banalize com o tempo. Ele está confortavelmente instalado em sua auto-indulgência de lançar seus discos, de passar a vida no estúdio e aplicar-se na conservação de sua maior criação, o próprio Guided By Voices, o que, pelamor, não desmerece ninguém. Mesmo assim, até para que o humilde articulista tenha mais o que dizer, que tal excursionar um pouco e aumentar o intervalo entre os lançamentos? Quem sabe para, sei lá, seis meses? Já ajudaria. De qualquer forma, qualquer criação de Robert sempre terá relevância e algo a dizer. Três bananas e passa a régua.

(Please Be Honest em uma música: Eye Shop Heaven)

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.