Resenhas

Explosions in the Sky – The Wilderness

Novo álbum do grupo americano alia simplicidade e texturas sonoras

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Ano: 2016
Selo: Temporary Residence
# Faixas: 9
Estilos: Post Rock, Instrumental, Rock Alternativo
Duração: 46:20
Nota: 4.0
Produção: John Congleton

Explosions In The Sky passou cinco anos dedicado apenas à composição e gravação de trilhas sonoras para o cinema, certamente exorcizando muito da vontade que os artistas de música instrumental têm de sonorizar filmes para a telona. A banda texana retoma sua sonoridade luminosa, cujo maior mérito é guardar espaço em suas epopeias sônicas, para um grande potencial viajante, porém agora com uma mudança importantíssima: as nove canções que surgem para compor The Wilderness são igualmente recheadas de facilidade Pop. Veja, não são melodias fáceis, longe disso, mas também não são aquelas lentas, longuíssimas e crescentes obras que os climas vão sendo arquitetados e colocados a serviço de algo que vai, sem trocadilho, explodir no céu em algum ponto da canção. Aqui os climas estão presentes, mas jogam a favor de uma construção melódica simples, eficiente, bem pensada, que, junto com a habilidade dos arranjos e uma simpática ambiência Pós-Punk, no sentido The Cure/Joy Division do termo, colocam o álbum em altíssima conta.

Tal influência está longe de soar escancarada. Pelo contrário, ela é sutil e se insinua discretamente ao longo das composições do álbum, dando um tempero não muito comum a criações deste tipo. Geralmente as bandas de Post-Rock, gênero que abarca a maioria das referências de Explosions In The Sky, se valem mais da encruzilhada Progressivo/Eletrônico dos anos 1970, misturada com alguma liberdade criativa alternativa conquistada a duras penas no underground americano. Algumas das composições por aqui são passíveis de serem imaginadas com vocais, uma vez que não há compromisso com a viagem pela viagem, pela longuíssima duração, pelos efeitos cinematográficos, pelo contrário. Demorou para que Explosions In The Sky conseguisse lapidar essa característica Pop em sua música.

A abertura tem a faixa-título ainda, iniciando com a chegada das guitarras a uma paisagem com bateria e percussão. Quando o ambiente se estabelece, temos a repetição do fraseado com nitidez e parcimônia, na lógica mais tradicional do estilo. A mudança começa a acontecer na canção seguinte, The Ecstatics, que evoca um clima joydivisioniano de guitarras e teclados que mais parecem estalactites, com espaço para a voz cavernosa de Ian Curtis surgir a qualquer momento da massa sonora. A melhor faixa do álbum, Tangle Formations, vem logo em seguida, usa o melhor da equação musical dpiano/guitarra/bateria para soar como se fosse uma poderosa faixa do trio inglês Keane, mas sem qualquer indício de overdose emocional, dando muito mais valor a uma fidelidade à proposta de tornar Pop, mas nem tanto. Logic Of A Dream, logo em seguida, já vai na direção oposta, com uma ambiência orquestral erguida visivelmente através de sintetizadores e uma espécie de “câmera lenta musical”, que perpassa o caráter épico insinuado desde o início da canção.

Desintegration Anxiety é outra destas canções quase-Pop. O andamento, após um início sombrio, deságua numa levada em midtempo, vigorosamente conduzido por bateria. baixo e guitarras, todos na mesma direção. Losing The Light é, como o nome já diz, um anoitecer em forma de música, mas algo que acontece longe da cidade, na distância, talvez na alma. Infinite Orbit é percussiva e guitarrística ao mesmo tempo, toda leveza e inteligência pelos quatro cantos, enquanto Colours In The Space tem a manha de, aos poucos, sem que percebamos, se inserir no ambiente e tornar-se parte dele, mérito máximo de quem milita nesta seara sonora. Landing Cliffs, encerrando o álbum, parece a chegada do inverno, aos poucos, com dias inteiros de frio passando em seus pouco mais de seis minutos de duração.

Explosions In The Sky consegue escapar do tédio que pode surgir como maior risco num álbum instrumental, sobretudo neste terreno cada vez mais manjado do Post Rock. Os caras escapam com inteligência da mesmice e, banhando-se nas águas tépidas da facilidade musical, tornam suas criações acessíveis sem abrir mão da beleza. Boa pedida.

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.