Resenhas

Raça – Saboroso

Segundo disco de paulistas é belo e sensível às percepções da memória

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Ano: 2016
Selo: Freak Records
# Faixas: 11
Estilos: Instrumental, Post-Rock, Noise Rock
Duração: 33:47
Nota: 4.5
Produção: Guilherme Chiappetta
SoundCloud: /tracks/231453224

Nossa memória é uma coisa curiosa. Quando a gente lembra de algum momento, raramente conseguimos fazer isto de uma maneira totalmente objetiva. Recordar um episódio é também recriar todo o espectro de emoções que se dava naquele determinado espaço de tempo e, como cada um percebe o universo de uma maneira única, nenhuma memória é igual à outra, por mais que as condições em que foram concebidas sejam as mesmas.

Da mesma forma que é autêntico, o processo de recriar memórias é algo que, com algum acabamento e refinamento sério. pode-se tornar um belíssimo e fértil campo dentro da composição musical, fazendo com que o processo de narrar esta lembrança seja tão ou mais interessante do que ela em si. É justamente nesse campo infinito de possibilidades que a banda paulistana Raça resolveu montar acampamento e dividir conosco uma das experiências sonoras/sensoriais mais interessantes do ano.

Saboroso é um exercício profundo da recriação dos universos particulares de cada integrante. Cada música tem uma pitada de decepção, feita em universo que ora flerta com um Post-Rock epifânico, no melhor estilo Explosions In The Sky, ora brinca com algumas referências do Emo do final dos anos 1990 e, até mesmo, uma temperada com um Indie Emo que traz viva a imagem de um Death Cab For Cutie tupiniquim. O sofrer acompanha a banda por sua curta discografia, mas este segundo disco é um momento fantástico em que as confissões adolescentes de outrora evoluem para narrativas extremamente densas e complexas. É um álbum pesado, no sentido mais cansativo e exaustivo que isto possa ter, e o fato de sermos capazes de sentir o fardo só deixa o trabalho cada vez mais interessante.

Este é tanto um disco auto-explicativo, quanto subjetivo. Primeiro porque seu nome de batismo nos descreve como é o processo de vivenciar estas memórias: saboroso, mesmo que as vezes precisemos sentir o gosto amargo e azedo da vida em ótimas músicas como Simpatizo e Levado. Entretanto, o aspecto subjetivo é o que torna o trabalho extremamente relevante afina, cada ouvinte traz consigo sua bagagem ao escutar Saboroso e assim, cada pessoa escuta o trabalho com uma dose pessoal única e intransferível de memórias.

Raça traz um registro impecável para aqueles que gostam de encarar discos como verdadeiros diários (ou até mesmo crônicas). Uma banda que cedo mostra seu compromisso com a qualidade, nos entregando uma odisseia emocional que tem grandes chances de figurar entre os dez melhores lançamentos do ano.

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Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique