Resenhas

Archy Marshall – A New Place 2 Drown

Jovem cantor britânico se aventura no Hip Hop e se dá mal

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Ano: 2015
Selo: True Panther Sounds
# Faixas: 12
Estilos: Hip Hop, Rap Alternativo, Lo-Fi
Duração: 36:12
Nota: 1.5
Produção: Jack Marshall, Archy Marshall

Archy Marshall ainda não completou 21 anos de idade, estando, portanto, incluso na categorização “dimenor”. Nesta condição, pelo menos artisticamente, o moleque está muito à frente de velhos, idosos e barbados em geral. A New Place 2 Drown é seu terceiro álbum, o primeiro que ele assina com seu nome, uma vez que debutou aos 15 anos como Zoo Kid e lançou seu primeiro disco como King Krule aos 18. Tudo bem, né? O moleque é fora de uma normalidade, tem um registro vocal grave, cara de criança ruiva, parece que voz e aparência não combinam, resultando numa inquietante sensação de que Archy está sendo dublado, o que não embaça a percepção de seu talento como cantor.

No terreno da composição e da elaboração musical, as canções de Archy se incluem no terreno que hoje se chama de Blue Eyed Soul, ou seja, aquela música de origem negra americana, cantada por efebos britânicos da classe média, nascidos em cidades improváveis como Manchester ou Londres, enquanto eles prefeririam a infância num gueto de Nova York ou Filadélfia. Sabemos que história da música na Velha Ilha passa pela apropriação da identidade cultural americana, este imenso e contraditório parque de diversões para essa galera. Um problema persiste: enquanto Rock, Soul, Jazz e Funk encontraram em ingleses representantes honrados e talentosos, o Hip Hop ainda não conseguiu ser assimilado corretamente por eles, gerando, quase sempre, certo constrangimento e Archy não é exceção. Sim, porque, este novo álbum, assinado e tal, é uma tentativa de adentrar os guetos e ruelas do canto-falado-malandreado das grandes áreas periféricas de cidades ianques, algo que não faz muito sentido. Nenhum adolescente dessas regiões enxergaria algum elemento musical familiar ou correlato. Pena.

Archy é um bom sujeito, mas seria muito mais interessante retornar como King Krule e explorar as texturas que ele descobriu em seu primeiro trabalho, algo que soava como um rascunho intencional das composições oitentistas de gente como Prefab Sprout ou Aztec Camera, mas que também tinha muito do que contemporâneos como Mac Demarco vêm fazendo por aí. A abordagem de Hip Hop proposta por Marshall é rasa. Canções como Swell poderiam ser salvas da mesmice, mas a indolência/chapação dos vocais deixa tudo mais complicado. Quando se aventura na faceta mais Eletrônica que o Rap assumiu nesse século, Arshy perde a mão em beats frouxos e autoindulgência. A última faixa, Thames Water, uma tentativa de fazer um épico urbano, fracassa no meio de um clima incômodo de largação sonora.

Talvez este álbum fosse mais apropriado para a apresentação entre amigos, algo como uma reflexão/criação não destinada a ser apreciada por qualquer um que esteja fora do contexto de concepção artística, vá saber. Fora dessa provável condição, o novo trabalho não se sustenta. Que Archy volte logo com sua persona King Krule e destrinche os misteriosos caminhos da música para a alma. Como rapper, jovem, não volte.

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.