Resenhas

Coldplay – A Head Full Of Dreams

Sétimo álbum do grupo inglês tem a felicidade como tema principal

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Ano: 2015
Selo: Warner
# Faixas: 11
Estilos: Pop Alternativo, Pop
Duração: 45:51
Nota: 3.0
Produção: Rik Simpson e Stargate

Vamos supor, apenas por um instante, que A Head Full Of Dreams seja um álbum sobre a vida pós-divórcio de Chris Martin, vocalista e mente por trás de Coldplay. Vamos supor também que o trabalho anterior, Ghost Stories tenha sido apenas sobre a dor da separação, a necessidade de reinvenção após um bom tempo vivendo junto – no caso, com a atriz Gwyneth Paltrow – aquela sensação de alívio e dor ao mesmo tempo, que só os divorciados ou exilados sentimentais sabem o que significa. Podemos concluir, com pouca ou nenhuma margem de erro, que Martin está feliz sem compromisso. Deu a volta por cima, conseguiu deixar seus demônios de lado, abraçou as figuras do sol, do céu, das cores e da alegria como pedras de toque neste álbum. Aqui tudo é otimismo, sonho e empreendedorismo. Vai dar certo, gente. Ou melhor, já está dando.

Sabemos que Coldplay sofreu uma mutação decisiva em seu som, deixou pra trás suas origens macambúzias no porão do rescaldo do Britpop da virada do milênio em favor de um Popão de estádio deslavado e alegre. No meio do caminho ainda pensou em trilhar um caminho com certo estilo, convocando Brian Eno para fornecer experiência adquirida em uma carreira vencedora por si, mas com particular expertise em reinventar bandas, tendo feito grande trabalho com U2 na virada dos anos 1990. Mas Eno foi deixado pra lá em favor disso, desse abraço apertado à melodia fácil, ao arranjo previsível, aos “ôôô” nos vocais, às canções que pareciam filme dos Transformers (entenda este parâmetro como bem quiser). Ainda que haja um percalço sentimental no caminho, o supracitado divórcio, a guinada já fora dada lá atrás, mais precisamente no lançamento de Mylo Xyloto, em 2011.

Não dá pra analisar o disco de outra forma. E aqui está o que de melhor e mais caro que o Pop planetário versão 2015 pode oferecer: participações de gente estelar como Beyoncé, modernete como Tove Lo, inesperada como Noel Gallagher e moderníssima como o duo norueguês Stargate, conectando as canções de Martin aos beats das pistas atuais. Mesmo assim, ainda que seja fácil curar uma dor de cotovelo com álbuns, turnês, 80 milhões de álbuns vendidos e tudo mais, podemos dar o crédito da sinceridade para Chris. Suas canções estão ok, algumas estão até superiores ao que ele faz desde Viva La Vida, que tinha Eno na produção. Bom exemplo disso é a faixa-título, que abre o álbum. Levada de baixo, algo de Disco Music revista em algum lugar, bons climas de produção. Birds, logo em seguida, tem a alma de uma canção de The Strokes sob o arranjo tecladeiro/climático, que soterra a melodia. Hymn For The Weekend tem os vocais de Beyoncé meio colocados de lado, lembrando que a banda já contou com a presença de uma cantora popíssima no passado – Rihanna – e não saiu-se bem. Aqui a sensação é a mesma. A levada aerodinâmica de Adventure Of A Lifetime, por exemplo, é cheia de vocais e ruídos que lembram personagens de anime cantando, mas há um bom arranjo, uma boa levada de baixo e bom riff de guitarra sintetizada. Everglow é outro bom exemplo, uma baladinha ao piano, que, mesmo tendo a profundidade de uma bandeja, é bem feita e traz fraseados ao teclado que lembram gravações oitentistas de Bruce Hornsby And The Range.

Fun, com participação de Tove Lo é eficaz, situando-se naquele terreno que define as canções que não são dançantes ou lentas, mas que tentam ser climáticas. Kaleidoscope é vinhetinha que antecede Army Of One, típica canção coldplayer, feita sob medida para estádios lotados. Amazing Day, com melodia bonita, mostra o quanto de diferença existe entre uma canção “lenta” da banda em 2015 e uma de, vejamos, 2000. Colour Spectrum é outra vinheta sem muito sentido, abrindo espaço para o encerramento com Up&Up, com batidinhas malandras e alternativas, para mostrar que há ainda um vínculo entre a banda multiestelar de hoje e o grupo alternativo/subterrâneo de ontem. Ou não.

O Coldplay de 2015 é o retrato de sua época. Tem bom orçamento para contratar bons profissionais de produção, bons músicos, engenheiros competentes, enfileirar colaborações multidisciplinares, sintonizar-se com a modernidade produzindo assim uma sonoridade bem feita e relevante. Martin tem certa manha como compositor, consolidou um estilo vocal que lembra Bono Vox, mas que também lembra Chris Martin. Suas canções retratam o que ele está sentindo, com sinceridade suficiente. É possível entender que existam fãs da banda ao redor do mundo se espelhando no que Martin canta e escreve e isso é o bastante para avaliar o disco como o melhor que banda grava em dez anos.

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BOM PARA QUEM OUVE: Mont Royal, Maroon 5, Young the Giant
ARTISTA: Coldplay
MARCADORES: Pop, Pop Alternativo

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.