Resenhas

Adele – 25

Em novo trabalho, tons de sépia servem como adorno de uma fórmula bem sucedida

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Ano: 2015
Selo: XL
# Faixas: 11
Estilos: Pop, R&B
Duração: 48:25
Nota: 3.5
Produção: Danger Mouse, Samuel Dixon, Paul Epworth, Greg Kurstin, Max Martin, Linda Perry, Ariel Rechtshaid, Mark Ronson, Shellback, The Smeezingtons, Ryan Tedder

Se Adele consagrou-se como um ícone da música Pop em 21, álbum no qual tratou das típicas desventuras amorosas sofridas universalmente por jovens adultos, em seu novo trabalho, intitulado 25, resolve assumir a trajetória cronológica como o pilar essencial de sua composição.

A princípio, esse parece um fator bastante óbvio: os títulos de seus três lançamentos até agora correspondem à idade da compositora na época de suas respectivas produções. Mas a questão que Adele Adkins traz em 25, afinal, diz muito mais a respeito da calcificação de um método de trabalho do que da manutenção de um sentimento criativo da artista, que amadurece o estilo de sua música de acordo com sua visão de mundo.

De fato, olhando em sua camada mais superficial, houve uma leve mudança na elaboração das letras de Adele desde 21. O que antes funcionava muito bem como a foz criativa da artista, a decepção amorosa na qual nutria seus sentimentalismos mais sensíveis, agora transformou-se num sofrimento de outra ordem, um olhar ressentido para o passado cheio de nostalgias. Com essa mudança temática – e com esse “envelhecimento” geracional – vêm as transformações sonoras. Se antes o Pop articulado era capaz de transformá-la numa diva mainstream (conquanto sofisticada) das pistas de dança, a Adele atual é capaz de dialogar com a herança inglesa da artista e transportá-la sem dificuldades para o mundo das canções românticas embaladas por um piano.

Não há nenhuma transformação radical e, assim, não é fácil de traçar um terreno com delimitações claras no qual, por exemplo, se encerra 21 e começa 25. O passado, ainda continua ser sua temática principal (é ainda para lá que se volta insistentemente o olhar da artista), embora agora essa realidade povoada por ex-namorados e decepções opere suas transformações à distância. Uma das questões mais evidentes aqui é que a superação de outrora, que antes se dava no sucesso estrondoso da música em si, agora passa a ser a própria temática de sua composição e, assim, transmite uma leve sensação de mímese melodramática, nos quais os tons de sépia servem apenas como adorno de uma fórmula bem sucedida: músicas românticas que falam do sofrer.

Adele continua a ser uma das artistas Pop mais inteligentes e interessantes de sua geração. E, é claro, uma das mais virtuosas, no melhor sentido do termo. E é justamente essa habilidade vocal que lhe permite imprimir um sofrimento em sua música que, embora sirva com perfeição para ganchos radiofônicos, não parecem expressar toda a sinceridade da artista. É possível que apenas com 27 anos de idade (vale lembrar que decorreram dois anos na feitura deste álbum) Adele se sinta tão velha e tenha uma saudade tão dolorosa do seu passado? Pode ser que sim, mas nos convém mais acreditar que as temáticas escolhidas para esse trabalho (as tais nostalgias e os tais dramas de amor) condizem mais com o campo de atuação do time de peso reunido para sua produção.

Musicalmente, 25 é grandioso. Não é comum encontrar na atualidade qualquer álbum que reúna 15 engenheiros de som (reunidos entre chefes e assistentes) em sua produção, além de convidados do cacife de Max Martin, Shellback, Paul Epworth, Danger Mouse, Tobias Jesso Jr. e Bruno Mars. As estratégias de seu lançamento incluíram, inclusive, a prática “Taylorswiftiana” de não disponilizar o álbum em streaming para alavancar a pontuação de sua venda. Funcionou. Todos esses são privilégios reservados a alguns bem aventurados do mainstream. Adele, ainda em 21, já reservou o seu direito de gozar destes atributos. Agora, um pouco afastada do auge de sua juventude, continua sendo uma das poucas capazes de manter seu posto com tanta elegância.

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ARTISTA: Adele
MARCADORES: Pop, R&B

Autor:

é músico e escreve sobre arte