Não se pode falar de música Experimental pós-2010 sem sequer mencionar as pluralidades de Daniel Lopatin. Conhecido principalmente por seu projeto Oneohtrix Point Never, o produtor de 33 anos juntou ao longo de sua carreira uma série de trabalhos que cada vez mais desafiaram os críticos, questionando sempre as barreiras do experimentalismo e suscitando interessantes debates sobre Arte e Estética em seu projeto paralelo de Vaporwave, Chuck Person’s Eccojams Vol. 1. Além disso, sua ajuda já foi requisitada por outros músicos de gêneros totalmente distintos, desde o Metal Industrial até a melancolia de Antony And The Johnsons. Já fica bem evidente que Daniel é uma pessoa que tem propriedade para discutir e produzir música, sendo que qualquer lançamento de sua parte ou contribuição em discos alheios é digna de total relevância no mundo da música.
Garden Of Delete não só faz juz à relevância consolidada pelo nome Oneohtrix Point Never, como constrói um sólido posicionamento, no qual Daniel se sente confortável para inovar e revisitar suas referências passadas. Estamos diante de um verdadeiro tratado de música Experimental, que procura timbres, texturas e sons que tiram o ouvinte de zona de conforto, sem causar (ironicamente) desconforto. Ele nos aproxima de referências mais concretas, como Nu-Jazz, Eletrônica Pop e Synthwave, mas, ao fazer isso, injeta doses nocivas de experimentalismo, agindo como um verdadeiro assassino que não dá tempo da vítima pensar em reagir (os sons grotescos e nojentos em Mutant Standard dá essa impressão claramente). Estamos paralisados ao ouvir este disco.
Como dito, ele revisita um pouco do gênero que “criou”: o Vaporwave. Entre recortes e truques de edição, o produtor cria novos significados a partir de músicas já existentes e, ao contrário de infinitos álbuns com essa estética, aqui nada é feito de maneira amadora. Temos a impressão de que Daniel, em um primeiro momento, cria uma música para depois misturar, experimentar e recortar, fazendo com que identifiquemos algumas ambientações em meio ao caos estabelecido. Ótimas canções incluem a autorreferente Eccojamc1, a cinemática e nostálgica Child Of Rage e I Bite Through It que alterna entre improvisos de Jazz no melhor estilo Flying Lotus e sonoplastias caóticas de Arcade.
A discografia de Oneohtrix Point Never é quase como uma novela que deixa ao término dos respectivos capítulos dúvidas sobre como os eventos irão se desenrolar. Em Garden Of Delete somos instigados a refletir um pouco sobre os significados dos recortes “aleatórios” propostos e novamente submetidos a um estado de curiosidade entre projetos. É um álbum que claramente serve a um propósito maior do que à música, criando significados semióticos e filosóficos dentro do experimentalismo. Mas, tirando toda essa lenga-lenga de teórico musical, temos um disco forte, completo e complexo, nos melhores sentidos que estas qualidades podem ter.
Uma nostalgia que trilha novos caminhos, e um olhar futurista que revela detalhes de um passado consolidado na música experimental.