Resenhas

André Whoong – 1985

Álbum de estreia do paulistano revela cronista de toda uma geração em inspirações livres

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Ano: 2015
Selo: Rosa Flamingo
# Faixas: 12
Estilos: Indie, MPB, Pós-MPB
Duração: 38'
Nota: 4.0
Produção: André Whoong e Fábio Pinczowski

É estranho fazer 30 anos em 2015. Existe uma grande expectativa de adolescência tardia promovida por um sistema consumista-capitalista-não-sei-o-quê e um peso até mesmo biológico que insiste em argumentar que não se é lá tão jovenzinho assim – e pior que os dois tem razão. 1985 não é apenas o álbum de estreia do paulistano André Whoong como também mostra-se um registro preciso dessa fase da vida hoje em dia, praticamente uma meia-idade em relação à adolescência ou o estágio imediatamente após ela e uma inegável juventude na comparação com os próximos momentos.

Para comentar essa sensação, Whoong veste um bom humor evidente cheio de sensibilidade nas entrelinhas em histórias ora confessionais, ora naquele exagero que deixa qualquer causo mais interessante. Ele é eu-lírico e narrador, enquanto vozes de Leo Cavalcanti, Bárbara Eugênia e Tiê funcionam tanto como interlocutores, quanto como vozes de sua consciência em resposta a alguns de seus questionamentos. Em um cenário urbano, suas narrativas ganham forma por sons contemporâneos que parecem vir naturalmente a tantos artistas brasileiros hoje em dia, aquele resultado da combinação de um legado histórico da canção popular com referências fora do mainstream, o que sempre confere o clima atemporal que tanto caracteriza nossa época – Amigos e Parece talvez sejam os melhores exemplos.

Esse clima é o ideal para a ambientação desses versos, na dicotomia da juventude atrasada e da sensação de velhice precoce (outro diagnóstico desta geração). É daí que surgem frases como “Não saber a certeza de nada” e “A vida é uma só” nas músicas entre bebedeiras e relacionamentos falidos, assim como a palavra “porta” aparece algumas vezes – um simbolismo (talvez acidental) para o momento de transição que a quarta década de vida representa. São canções sobre solidões (tanto a almejada, quanto a inevitavelmente temida), amizades, amores e dores, sejam elas pessoais ou coletivas. É tanto sobre ele quanto é sobre uma geração inteira.

1985 revela o talento de André Whoong como cronista e compositor no primeiro capítulo da história de um personagem bem humorado, romântico, crítico e sensível que já se apresenta como alguém que viveu o suficiente para ter histórias para contar e energia para encarar o que mais a vida trouxer pelas próximas décadas.

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ARTISTA: André Whoong
MARCADORES: Indie, MPB, Pós-MPB

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.