Resenhas

Girl Band – Holding Hands With Jamie

Agressivo e bipolar, disco de estreia dos irlandeses é atestado de loucura

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Ano: 2015
Selo: Rough Trade
# Faixas: 9
Estilos: Noise Punk, Experimental, Rock Alternativo
Duração: 38:00
Nota: 3.0
Produção: Girl Band

No século 19, Edgar Allan Poe afirmou no auge de sua criatividade alucinógena que “a ciência ainda não nos provou se a loucura é ou não é o mais sublime da inteligência”. Talvez, no estágio científico atual em que nos encontramos, tal argumento já tenha uma resposta: a loucura se tornou “doença” e está clinicamente prescrita em remédios tarja preta. Ao mesmo tempo, a afirmação nos faz questionar a que ponto nos deixamos levar pelos nossos devaneios e se eles são, ou não, prejudiciais a nossa saúde. Holding Hands With Jamie, primeiro disco de longa duração do grupo Girl Band, é um exercício à insânia ao qual não estamos acostumados.

Ouvir a obra se mostra um tarefa hercúlea nos primeiros instantes, não pela sua qualidade artística, mas pelo inóspito ambiente no qual nós somos colocados – semelhante a um filme de terror que suspende um susto a cada esquina. Baloo é um devaneio transgressivo cheio de distorções, barulho e ruídos incentivados pelo vocalista Dara Kiely. Sua execução vai crescendo, antecede a explosão de uma paredes de guitarra e poderia muito bem ser acompanhada de uma cartela de ansiolíticos.

Existe uma razão para qual Girl Band ter se tornado inconstante e surpreendente em seu primeiro disco: Dara Kiely. O líder relatou recentemente que vivia um “complexo de superhumano” – fenômeno que o fazia acreditar que controlava a meteorologia de sua cidade e o fez ficar internado por seis meses sob os cuidados da mãe. Se em faixas como Lawman, lançada no ano passado, já tínhamos a sensação de que um senso estético havia sido alcançado pelo quarteto irlandês (baseado no “medo e no delírio musical”), em Holding Hands With Jamie temos a certeza de que ele se materializou nas faculdades mentais de seu vocalista.

Não pense que o ruído é gratuito e que o suspense é forçado no disco. In Plastic e Texting An Alien tem lados mais dissonantes e contidos do vocalista que deixam-no com imperfeições interessantes e surpreendentes. Essa bipolaridade acaba deixando a obra pesada e com respiros com desfechos menos violentos do que o imaginado. Semelhanças com bandas como Liars e a maioria dos atos do selo Sacred Bones o colocam no limiar do Noise misturado ao Punk e o Rock Alternativo, mas com um formato lírico semelhante ao “spoken word”. Não são propriamente canções no sentido usal da palavra, mas sensações impostas pela música.

Fucking Butter, Umbongo e Pears For Lunch estão nesse limite entre loucura e medo, sendo as formas de expressão mais fortes da obra. Por fim, Girl Band é uma figura de sua estética e tem algo diferente para falar em seu primeiro álbum – só não espere se sentir bem e feliz ao ouvi-lo constantemente, pois um outro sentimento acompanha por completo Holding Hands With Jamie (título que poderia muito bem ser interpretado como “abraçando o delírio”): o masoquismo.

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Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.