Resenhas

Duran Duran – Paper Gods

Banda chega ao décimo quarto álbum de sua carreira com vigor

Loading

Ano: 2015
Selo: Warner Bros.
# Faixas: 12
Estilos: Synthpop, New Wave, Pop Eletrônico
Duração: 57
Nota: 3.5
Produção: Duran Duran, Mark Ronson, Nile Rodgers, Mr Hudson, Josh Blair

A máxima metafórica ilustrada no título (e na faixa de abertura) do novo álbum de Duran Duran denuncia a consciência que apenas uma banda que se aproxima dos 40 anos de carreira seria capaz de possuir. Se, por um lado, o grupo britânico não faz reverência aos “deuses de papel” da música atual (“the fools In town are ruling now”), de outro, também demonstra maturidade o suficiente para não ocupar um espaço profético de messias intocável da música do passado (ou seja, não recai na vaidade tentadora de ocupar o lugar de um dos Paper Gods). Assim, prefere continuar vivo, produzindo, mesmo que isso signifique atualizar a sua música em relação ao cenário contemporâneo.

Outro sintoma que denuncia essa atitude, consciente ou não, dos “veteranos de espírito jovem” de Duran Duran é a capa de seu trabalho. Flertando com o as cores e formas do Vaporwave, (que, aliás, talvez seja o correspondente estético atual do New Wave anos 80), Paper Gods alinha os momentos mais icônicos de sua carreira (os lábios, o telefone, o quepe de Rio, o lutador de sumô, a silhueta feminina e o copo de champagne do seu polêmico videoclipe Girls on Film, e o tigre, que provavelmente alude a seu terceiro trabalho, Seven and The Ragged Tiger) com o presente, concatenando, assim, o estilo que criou na década de 80 com os seus reflexos hype pós-2015.

Para tal missão, Duran Duran reúne uma gama bastante diversa (e curiosa) de produtores e participações especiais. Temos o espírito Uptown Funk de Mark Ronson (que já havia trabalhado com a banda em seu álbum anterior, All You Need is Now), Mr. Hudson e Joshua Blair, também do álbum predecessor, e o resgate do clássico Notorious com o guitarrista Nile Rodgers. Além desses, temos John Frusciante, que, dada a sua relativamente recente experiência como produtor de música Eletrônica, contribui com os apectos mais melancólicos e melodiosos deste trabalho (característica que sempre soou como um ponto forte da banda, vale lembrar).

Paper Gods possui um espírito dançante, que, como já dito, tenta se encaixar nas vias Pop do mainstream contemporâneo, sem perder o peso clássico de seu passado. Para isso, convida para os vocais alguns nomes de peso da atualidade. Essa pode ser uma estratégia perigosa (vide, por exemplo, a recente experiência de Giorgio Moroder), mas Duran Duran, talvez sem querer, ao invés de glamurizar o espírito fútil da fama e do hedonismo, acaba servindo como um reflexo amadurecido deste estilo vida. Assim, além das excelentes performances de Kiesza e Janelle Monáe, temos a caricata (e sintomática) participação especial de Lindsay Lohan.

Já sabemos que Duran Duran pode, com orgulho, se gabar de ser dono de uma carreira que exibe uma modernidade constante, sempre conservando, ao longo do tempo, um aura de frescor. Paper Gods, além de ser a prova material de que é possível permanecer relevante por um período muito improvável de carreira (mesmo que essa não seja exclusivamente composta de acertos invictos), sem recair em auto-paródias condescendentes, é um álbum-metáfora não apenas dos próprios Duran Duran, mas também de grande parte do estilo de vida da música Pop atual.

Loading

Autor:

é músico e escreve sobre arte