Resenhas

Mustache e Os Apaches – Time Is Monkey

Segundo disco do grupo prova-se grandioso, cáustico e mais sério, ainda que nada sisudo

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Ano: 2015
Selo: Risco
# Faixas: 12
Estilos: Rock Psicodélico, Folk, Blues Rock
Duração: 47'
Nota: 4.0
Produção: Guilherme Jesus Toledo

Das ruas do centro de São Paulo aos palcos de grandes festivais, de apresentações itinerantes para alguns transeuntes aos shows em grandes auditórios. Esse foi o caminho percorrido por Mustache e os Apaches no tempo que separa o lançamento do primeiro álbum, o homônimo Mustache e os Apaches, de seu novo disco, Time Is Monkey. O saldo tirado desse período de pouco mais de dois anos é mais do que positivo, não só por ver onde o grupo conseguiu chegar, mas também pela clara evolução que a banda teve em seu som sem perder suas principais características: o bom humor e suas excentricidades.

Não seria um exagero dizer que essas características são ampliadas neste álbum. O humor ganha uma cara mais cáustica e, por diversas vezes, um tom mordaz em uma crítica à sociedade gerida por cifrões e pelos ponteiros do relógio (como em Orangotango e a faixa-título), sem contar letras com um tom mais pessoal, que miram (certeiramente) em nossas vidas dentro desta selva de pedras (ouça Eco ou Quantos em Mil e entenderá o que estou falando). As excentricidades surgem não mais como sonoridades engraçadinhas e às vezes parvalhonas, mas em construções esquizofrênicas que buscam não só mais no Folk e nas Jug Bands sua inspiração. Há aqui elementos do Blues, Rock Psicodélico, Country e Música Caipira, que se enfileiram em uma barafunda criativa.

O grupo, mesmo sem querer, quebra com expectativas e paradigmas em relação ao seu próprio som, ganhando mais autonomia e uma cara bem mais contemporânea, por mais que a aura retrô continue em voga. Essa interessante dicotomia dá vida a um álbum mais rico, seja por conta do instrumental mais experimental, dos arranjos mais aventureiros, das letras mais direto ao ponto ou mesmo do ímpeto mais crítico que o quinteto desenvolveu. Tudo isso corrobora para uma obra que se encaixa mais nos novos palcos em que a banda se apresenta ultimamente, nos quais se mostra mais preparada para os amplificadores e holofote do que para um ambiente a céu aberto – ainda assim, as faixas não devem fazer feio nas tradicionais apresentações mambembes da banda.

Com doze faixas e cerca de 47 minutos, Time Is Monkey mostra-se um disco mais maduro, mais elétrico que acústico, mais eclético que Folk – assim como mais sério, ainda que não seja nada sisudo. Mostra-se também mais disposto a aventurar-se por diversidades sonoras e arriscar-se em uma produção mais robusta, que se justifica ao chegar em Vida Errante, faixa com contornos mais caipiras que fecha o redondo álbum como uma mensagem (“O tempo passa tão depressa, não pode segurar/ o tempo passa tão devagar, não podemos alcançar”) que complementa a de Time Is Monkey (“São tantas notícias por hora e agora é impossível de assimilar em que era estamos, para onde vamos, no que é que vai dar”).

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Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts