Resenhas

DRINKS – Hermits On Holiday

Disco de estreia de projeto colaborativo revela experimentalismo ímpar e chocante

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Ano: 2015
Selo: Heavenly/Birth
# Faixas: 9
Estilos: Indie Rock, Art Rock
Duração: 41:00
Nota: 4.0
Produção: Drinks
Itunes: https://geo.itunes.apple.com/us/album/hermits-on-holiday/id1003467170?mt=1&app=music

Ser diferente em pleno século 21 é um mito. Não queremos dizer no sentido de produzir algo totalmente original e inovador, estamos falando em ser considerado esquisito em um época em que o Experimental se torna uma das práticas mais difundidas na música e harmonias já não são tão atraentes quanto costumavam ser.

Talvez, para que um artista produza algo realmente inusitado, precisamos de um pouco de loucura e desprendimento de certas estéticas, mas podemos cair mesmo assim em certas conveniências e, desta forma, aquele fator único e ressaltante se apaga, tornando as obras pouco hostis. É uma tarefa difícil, mas há aqueles que conseguem se destacar, como por exemplo o conturbado e histérico Pharmakon. Agora, conseguir esse sentimento ruidoso dentro de um gênero como o Indie Rock é uma tarefa bem mais complicada. Surpreendentemente, o projeto colaborativo DRINKS conseguiu nos provar que, em se tratando de música, os limites são inexistentes.

Unindo a novíssima primeira dama do Indie Pop, Cate Le Bon, e um dos músicos mais peculiares e esquisitos dos últimos anos, White Fence, este é um projeto dedicado à celebração dos esquisitos. Hermits On Holiday delimita um universo Indie Rock, mas inverte todos os valores, dogmas e conceitos pré estabelecidos do gênero, produzindo uma desorientação forte do ouvinte, que percebe um gênero familiar, mas não consegue identificar ao certo seus elementos.

Apesar disso parecer um demérito, é na verdade uma das maiores qualidades deste trabalho de estreia: o fato e o alívio de saber que ainda existem novos jeitos de surpreender ouvindo música, mesmo após tantas obras na música contemporânea. Uma espécie de novo recorde mundial a ser quebrado no campo da loucura e do inusitado.

Existe pouca estrutura. Tim, Do I Like The Dog propõe solos concomitantes de guitarra e bateria, mas em compassos totalmente abruptos e diferentes, com Cat recitando um poema de uma frase por toda a composição. Cheerio, por outro lado, brinca com a repetição como uma forma de hipnose que não nos acalma, apenas tensiona por não deixar tão claro quando escaparemos deste labirinto de dissonâncias. Focus On The Street é o mais próximo do Indie Rock que podemos chegar, reconhecendo baterias ríspidas e baixos pontudos e cortantes, mas todos eles acobertados por uma camada de barulho e efeitos criados das maneiras mais inusitadas. De certa forma, o trabalho elaborado ao longo de Hermits On Holiday se assemelha à arte abstrata, na qual podemos até tentar reconhecer formas conhecidas naquele barulho todo, mas este não o intuito. O caos produzido aqui é a própria essência do disco.

Portanto, DRINKS produz uma estreia marcante e forte dentro do cenário experimental. Não só pela proposta que se mantém interessante ao longo dos quarenta e poucos minutos de execução, mas por conseguir fazer com que um ouvinte, em plena era contemporânea, se sinta surpreso e instigado a investigar as esquisitisses criadas por dois músicos sensíveis ao barulho e à dissonância. Um disco capaz de chocar os mais céticos.

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Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique