Resenhas

Vince Staples – Summertime ´06

Primeiro disco do rapper o faz subir um degrau rumo ao alto escalão do Hip Hop

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Ano: 2015
Selo: ARTium Recordings, Def Jam Recordings
# Faixas: 20
Estilos: Hip Hop, Rap
Duração: 59:04
Nota: 3.5
Produção: No I.D., DJ Dahi, Clams Casino, Brian Kidd, Christian Rich

Vince Staples soube agir de forma meticulosa antes que seu primeiro disco fosse lançado, ao disponibilizar mixtapes anuais desde 2011 e encerrou o ano passado com o EP, Hell Can Wait- o que construiu expectativas e personalidade ao redor de sua música. No período, não despontou como um dos grandes nomes no Hip Hop e figurou sempre na categoria de “esperança”, e não “realidade”, à sombra do coletivo fragmentado OFWGKTA pelo seu estilo minalista, seco e agressivo de rimar. Summertime ‘06 é a sua redenção e abertura para outras possibilidades ao longo de quase uma hora de batidas em um disco duplo.

Não estamos diante do disco mais original do estilo do ano. Talvez, um dos mais bem produzidos devido à presença de grandes nomes atuais na confecção de beats – No I.D. e Clams Casino. O primeiro assina praticamente o álbum todo e dá mais identidade às rimas de Vince a respeito de sua juventude roubada (Stolen Youth, nome de uma de suas mixtapes), enquanto o segundo é o alívio necessário à tensão. O verão de 2006 é o ponto de partida para desbravarmos a consciência e a realidade seca do rapper, momento em que algo parece ter desencadeado sua visão obscura do mundo. A capa negra com ondas oceânicas simboliza em sua paleta de cores a sensação de que o sol não bateu no período mais quente daquele ano.

Sente-se isso logo no começo, em Lift Up: Vince pede para ser erguido, já que o consumo de remédios e drogas para que a sua dor vá embora é ineficaz (tudo isso ao som de uma batida circular asfixiante). O disco demora para engrenar e o minimalismo das batidas é salvo pelo acréscimo de um ou outro elemento percussivo em Norf Norf ou pelas palmas de Loca. Ambas poderiam ser confundidas como de um outro rapper e parceiro de Staples que gosta dessa atmosfera: Earl Sweatshirt. Entretanto, se Earl fixa-se em suas próprias paranoias lisérgicas, Vince foge desse narcismo narcótico e traz coisas mais interessantes a roda. Jump Off The Roof confunde realidade com um sonho e exibe desejos suicidas com uma batida apressada cheia de backing vocals dramáticos. Já Señorita finalmente põe o baixo a frente de outros elementos – vibra e traz crescimento a obra.

Sentimos que Vince e seus produtores não querem cansar o ouvinte (algo que poderia acontecer em um disco duplo). A coesão e o clima do disco podem até parecerem semelhantes, mas variações ao longo de algumas faixas trazem a sensação de continuidade e evolução constante ao disco. Summertime é de longe uma das melhores faixas da obra, tem em seu DNA as batidas cadenciadas e melancólicas de Clams Casino e encerra perfeitamente o primeiro lado do disco. O segundo parece trazer mais do mesmo, enquanto um olhar atento nos mostra justamente o oposto: a ambientação ciclíca e claustrofóbica do álbum ganha outros contornos e pequenos detalhes trazem alívio sonoro, como a linha de baixo de Surf, as melodias da balada Might Be Wrong ou a desaceleração sonora de Like It Is.

Desbravar Summertime ‘06 não é uma das tarefas mais fáceis de se realizar. Seu objetivo parece ser sempre o de mostrar realidades cruas com versos muitas vezes lacônicos de Vince Staples – as batidas ainda mais secas e minimalistas em muitos momentos parecem nos colocar no território do “mais do mesmo”, principalmente para quem conhece o trabalho dos membros do coletivo OFWGKTKA. Todavia, a produção consistente de No I.D. e Clams Casino traz frescor à fórmula: ambos abusam de timbres inusitados de percussão e bateria e muitas vezes trazem o ouvinte mais perto do que está acontecendo. Longe de qualquer pista de dança e mais adequado para ser escutado consigo mesmo, o primeiro disco de Staples funciona muito bem pelo seu “background produtivo” e não deixa um gosto amargo na boca e nem o sabor de simples aperitivo – agrada e o traz mais perto do rótulo de “realidade”.

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ARTISTA: Vince Staples
MARCADORES: Ouça

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.