Resenhas

A$AP Rocky – At. Long. Last. A$AP

Segundo disco do rapper busca outras sonoridades e alça-o para ser um dos grandes de sua geração

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Ano: 2015
Selo: RCA
# Faixas: 18
Estilos: Hip Hop, Rap
Duração: 66:15
Nota: 4.0
Produção: A$AP Rocky, Steven "A$AP Yams" Rodriguez, Danger Mouse, Juicy J , Hector Delgado

A$AP Rocky é uma daquelas figuras emblemáticas do século 21 que sustenta seus pilares a partir das mudanças que aconteceram nos últimos 20 anos. Ele é um produto nascido a partir da curadoria de “tumblrs” como RealNiggaTumblr, página já fora do ar que o ajudou a criar o “hype” ao redor de seu coletivo, o A$AP Mob. No entanto, diante de tanta exposição e falatório antes de uma verdadeira consolidação, Rocky estreou em 2013 com um disco que se destacou em um ano relativamente fraco de grandes nomes do Hip Hop.

LONGLIVEA$AP era um lançamento bastante esperado e conseguiu sustentar o hype de milhões de visualizações no YouTube e uma direção de arte que o fez entrar no imaginário popular do jovem norte-americano com faixas e parcerias que logo de cara chamavam a atenção. Não só isso impressionou, mas também a capacidade do rapper em criar batidas voltadas pro Trap, pesadas no instrumental e, ao mesmo tempo, extremamente acessíveis. A$AP não canta sobre mazelas sociais ou cria narrativas complexas em suas composições, no entanto ele tem um jeito particular de rimar e está sempre ligado a ótimos produtores, algo que se consolida em At.Long.Last.A$AP.

Sabemos quem está atrás do microfone do começo ao fim do disco, enquanto percebemos também uma nova personalidade e capacidade artística do rapper em se reinventar. Estão aqui as batidas minimalistas com baterias relativamente simples e um grave baixo sustentando a mistura como em Canal St. com um fluxo melódico irrestível, o Trap sujo de JD e as baladas ao seu estilo em M’$ com Lil Wayne. Entretanto, o que dá destaque à obra como um todo são as fugas do esperado e dos lugares comuns, devido principalmente a ótima participação do produtor Danger Mouse.

Ele já esteve envolvido em Gnarls Barkley e Broken Bells, projetos que não tem nada a ver com Hip Hop, e também fez um famosos disco que misturava The Beatles com Jay-Z, o famoso Grey Album. Sempre ligado a projetos mais “artísticos” com os pés no mainstream, Danger Mouse era o cara que A$AP precisava para ganhar novas cores e poder sair de uma imagem consolidada do público. Isso surge logo na faixa de abertura, Holy Ghost com uma batida construída a partir de um riff de guitarra e que já o expande para novos horizontes com um som mais robusto e bem trabalhado.

Este lado instrumental – que ao menos soa mais ao vivo que sampleado – é muito bem-vindo e retorna em outros momentos, como Max B com sua batida hipnótica, Pharsyde – mistura pura da psicodelia de Danger Mouse com Rocky – e a saudosista Jukebox Joints, de longe uma das melhores faixas do disco. Nela, temos a parceria do rapper com Kanye West e Joe Fox e nos fez lembrar os primeiros momentos de West (com inclusive versos melhores que todos os singles de seu esperado novo disco) em um momento letárgico e nostálgico marcante.

As parcerias, tão essenciais na carreira de A$AP mostram-se ainda mais certeiras aqui: Back Home, rap cru como os anos 1990 nos costumavam entregar, tem o mago Mos Def nos microfones e um linha instrumental de filme de perseguição, enquanto Electric Body com o antigo parceiro Schoolboy Q é o produto pronto para singles da Billboard. Já Fine Wine tem tudo para ser uma das grandes baladas de Hip Hop do ano. O mesmo Joe Fox aparece aqui com Future e M.I.A. em uma faixa que poderia colocar todo o primeiro disco de A$AP Rocky no bolso, dada a sua construção tensa, dramática e intensa.

Curiosamente, os singles lançados previamente perdem impacto na obra, tamanha a sua pluralidade de estilos e boa construção. Everyday (com Rod Stewart, Miguel e Mark Ronson) soa meio genéricao e L$D – uma viagem sem grande impacto em versos sobre o uso de ácido- é insosso. Algo que não esquecemos ao longo de At.Long.Last.A$AP é a constatação de que a obra é a construção do Hip Hop para os jovens e para um público menos enraizado no estilo. Se Rocky não tem letras potentes e ácidas como outros rappers contemporâneos, como Kendrick Lamar ou mesmo Chance the Rapper, ele disputa o espaço do mainstream com outros artistas e o faz muito bem. Seu segundo disco mostra que o caminho está sendo construído aos poucos e que o hype definitivamente é uma lembrança do passado – que venham mais aventuras por outras batidas e produtores porque o rapper sabe aguentá-las como poucos músicos atualmente.

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ARTISTA: A$AP Rocky
MARCADORES: Hip Hop, Ouça, Rap

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.