As batidas marcantes e pegajosas de Django Django, embaladas pela levada grave do contrabaixo em conjunção com a massa coesa de sintetizadores, constituem uma fórmula certeira para deixar os ouvintes de Born Under Saturn bastante animadinhos – apesar de seu título com teor pessimista. Diz-se, em astrologia, que a influência de Saturno, num sentido negativo, está relacionada ao fracasso, à fatalidade, ao isolamento e à depressão. Num sentido positivo, Saturno apoia os esforços de longa duração, a estrutura física e emocional e, por isso mesmo, o trabalho duro e obstinado.
Se, por um lado, o segundo trabalho de Django Django está muito longe de representar qualquer instrospecção ou melancolia, por outro, “estrutura”, “cristalização de padrões” e “trabalho obstinado” são expressões que fazem muito sentido. Após um grande sucesso com sua estreia homônima, só faz sentido tentar criticar Born Under Saturn por alguma relação com seu anterior Django Django. Afinal, um dos maiores méritos do grupo foi seu teor de novidade, uma atualização de influências diversas na música alternativa que chamou-se ”Post Indie”. Por isso, quando Django Django não só continua no universo criado por ela mesma, mas envolve-se ainda mais profundamente no seu modus operandi, a aura cheia de ineditismo dissolve-se, mas, por outro lado, cristaliza-se uma fórmula de sucesso.
Podemos até pensar em Django Django como uma faceta mais tropical de Alt-J, com uma influência mais caribenha e mais coros de vozes herdados da escola de Brian Wilson. A escolha estética do grupo é algum tipo de futurismo retrô e distópico, mas, ao mesmo tempo, kitsch e ensolarado. O encanto dos anos 80 e a malemolência contemporânea. Uma escolha de fatores improváveis e diversificados que acabaram criando o aspecto único do grupo. Tão animado e tão frenético quanto seu anterior, Django Django cristaliza sua carreira com Born Under Saturn, seja pelo seu pessimismo irônico e seu humor azedo, seja pelo calor de sua obstinação.
